Joaquim Rodrigues
Começar é fácil, acabar é mais fácil ainda, é por isso que
respeito cada vez menos todas estas ginásticas que todos nós fazemos para amar
alguém. São actividades que aprendi que o mais natural é criar, e o mais
difícil de tudo é continuar. Mas confesso que mesmo sendo assim, actividade que
eu mais amo e respeito, é a actividade de manter.
Quase tudo se resume a começos e a encerramentos.
Arranca-se com um relacionamento de qualquer maneira, cria-se fortes expectativas
enganamos o nosso coração, é como que dizer, encontramos o teu alimento
saudável meu amigo. Mas há mínima comichão! Coração aguenta mais uma vez por
favor, não tem seguimento ou perseverança esse amor, cai no esquecimento e nem
damos pela morte dele. É por isso que eu hoje respeito mais os continuadores
que os criadores. Criadores não nos faltam, existe é quem inventa tudo, são mandões
de sentimentos, fazem juras sem fim “ Este amor é até que a morte nos separe”
mas nunca é assim, são heróis do tempo, mas o que eles não sabem, é cuidar do
seu próprio coração. Faltam-nos é guardiões a quem chamamos de anjos, para que
possam cuidar de nós como deve ser.
A manutenção do amor exige um cuidado maior, porque
qualquer trouxa como eu, se apaixona, sem pensar no que pode acontecer amanhã. Embora
seja preciso ter paciência para fazer perdurar uma paixão, e o esforço para no
tempo o fazer continuar, todas as coisas que se julgam boas, sejam amores ou
tradições, monumentos ou amizades, é o que distingue os seres humanos. O nascimento
e a morte não têm valor, são os fados da animalidade, procriar é bom, mas o que
é lindo é educar.
Hoje já percebo a razão por que qualquer casamento
duradoiro é mais apaixonante do que a mais acesa das paixões, guardar é um
trabalho custoso, as coisas têm uma tendência horrível para morrer. Salvá-las
desse destino é a coisa mais bonita que se pode fazer, mas dá muito trabalho. Mas
haverá verbo mais bonito do que «salvaguardar»?
É fácil uma pessoa bater com a porta na cara, zangar-se e
ir embora. O que é difícil é ficar. Isto foi o que eu aprendi com ela, ensinou-me
porque era o amor da minha vida, era a mulher que eu desejei pra sempre um dia só
pra mim. mas ela não me aceitou como eu sou, sou um conservador. É por esta e
por outras, que eu hoje vejo melhor a vida, e lhe dedico este meu texto, que eu
escrevi à sombra dela.
Preservar como o faço, é defender a minha alma do ataque
da matéria e da animalidade. Eu sou assim, nunca deixo sozinhas, as coisas que amarelecem,
apodrecem e morrem. Não há nada mais fácil do que esquecer o que não existe.
Pior é se ainda existe, sentimo-nos mal, e começar do zero, ao contrário do que sempre pretenderam
todos, já não é assim tão fácil. O mundo é gratuito. Faz com que não seja
preciso estudar, aprender, respeitar, absorver, continuar, mas amar fazemos sempre
o mais difícil, amar como é?
(29/08/2017)
Joaquim Rodrigues