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domingo, 17 de maio de 2015

"LONGE DO AMOR"


Ele sentiu um tremendo golpe com a partida dela, aquilo foi como tivesse perdido metade de si, no entanto o seu pensamento era exagerado, mas que naquela altura lhe pareceu mais do que evidente, de não poder voltar a amar outra mulher com a mesma sinceridade. Não há nada mais puro que o amor que admite todos os desastres com a certeza de sobreviver a qualquer contratempo. Era assim a paixão dele, mesmo nos piores momentos, quando mal se falavam e ele se fazia desentendido para não ter de rebater a perpétua insatisfação dela. Por fim ela anunciou-lhe que se ia embora. Fez as malas, saiu de casa, telefonou-lhe mais tarde a avisa-lo de que já não estaria lá quando voltasse. Tinha pressa de partir e alardeou até uma alegria insensata com o intuito despropositado de lhe mostrar que a separação não lhe pesava nem um bocadinho. Este seu espírito vingativo surpreendeu-o muito, pois pensou sempre não haver nas desavenças deles nada de tão grave que não pudesse ser remediado. Mas a mente humana é capaz de esconder ressentimentos insondáveis e, quando ele lhe apelou ao bom senso e lhe pediu que o ouvisse com a promessa de escutar também as suas razões, ela remeteu-se a um silêncio obstinado que era, evidentemente, mais uma forma de retaliar por algo que ele não entendia, mas ela não esclarecia. Ficaram assim separados por este desencontro absurdo, ela convencida de que ele sabia bem as suas razões, ele tentando adivinhá-las. No fim, tudo se resumia a isto, ela acreditava que ele não a amava o suficiente ou, pelo menos, não tanto quanto ela o desejava.

                                                                    Joaquim Rodrigues

Estava convencida de que poderia deixa-la num dia qualquer sem dor nem remorsos e, em virtude dessa angústia permanente, foi germinando nela uma mágoa que depois de ganhar raízes se desenvolveu livremente até se tornar destrutiva. Agora, na mente dela as suspeitas eram bem reais e o desencanto nada tinha a ver com a insegurança crónica que lhe toldava o humor e a tornava cada vez mais exigente e sufocante. O resultado perverso desse processo insano foi chegar ao ponto de já não o amar desesperadamente e até o querer muito menos do que ele a ela. Destruiu o amor de uma vida por causa de equivoco do coração, mas ficou tão tranquila por não se sentir dependente dele que se animou com o desejo pueril de o castigar com um desprezo despudorado. A injustiça soube-lhe bem. Provavelmente, no futuro, ela conquistará um homem que não a apaixone e que possa manipular facilmente, e assim poderá viver com serenidade. E sem amor.

 (16/05/2015)
Joaquim Rodrigues