Ana tem 55 anos e o Carlos 57! Eles namoraram, na adolescência, e depois terminaram tudo. Casaram com outras pessoas, fizeram as suas vidas, tiveram filhos.
Mas, por força do destino, por coincidência ou simplesmente porque sim!
«Eu prefiro a versão do destino», um dia voltaram a encontrar-se.
Eles mal se viram! Logo se aproximaram um do outro, e deram um abraço demorado e tudo deixou de se mover naquele momento, e só passado alguns segundos, notaram que daquele abraço eles os dois já estavam a precisar desde à trinta e muitos anos. Como se o mundo tivesse ficado, assim, congelado, trinta anos à espera deste reencontro. Ana ainda trazia ao pescoço uma medalha que Carlos lhe tinha destinado, há trinta anos, para o Dia de São Valentim.
Começaram a viver juntos no final do ano passado, e um dia destes casam. Aquele sonho com que faz o Carlos ser um homem romântico está quase acontecer! Esperou três décadas, mas brevemente vai concretizar-se. O de Ana já passou à prática.
Foi lindo os ver recordar, o tempo da adolescência! A Ana contou.
- Sabes, ainda uso esta medalha que trago ao pescoço em forma de colar, sempre a estimei durante estas décadas, senti sempre que esta medalha me fazia recordar o primeiro beijo, a primeira discussão como só os adultos o faziam. nesta medalha está cá tudo.
Ele sorrindo feliz por Ana ainda ter a medalha que ele se lembra muito bem lhe ter oferecido, diz.
- Lembro-me quando tu te metes-te comigo, lembra ele.
Ana abana a cabeça.
- «Não, não, não, nada disso, tu sim!
- Uma vez eu estava a jogar flippers e tu começaste a dar-me empurrões, uns toques, uns pontapés, responde ele.
Ana arqueia o sobrolho, e nega tal coisa, respondendo.
- Tu é que não paravas de me fazer olhinhos, e atiravas larachas para me provocar.
Não importa. O que interessa para o caso é que, quando ela tinha 14 anos e ele 16, em Agosto de 70, começaram um namorico, muito amaldiçoado por uma fação da família dela, que não queria ver a filha namorar um rapaz lá da terra.
- Os meus pais achavam que eu era muito nova, mas sobretudo odiavam o falatório. E além disso creio que o meu pai sentia que uma relação com um rapaz da terra era um recuar nos planos que ele tinha para mim. Ele queria mais para a filha como todos os pais. Mas lembro-me muito bem que apesar da idade, tu fos-te para mim o homem mais romântico que eu um dia namorei, e ao longo do tempo quando eu ouvia falar de romantismo logo me lembrava de ti, diz ela no seu jeito. Mas quando eu tive que ter a difícil tarefa de te informar que meus pais não concordavam com nada daquilo?
Nem emaginas, sempre me escapou uma lágrima por me lembrar tudo isso! Então uso esta medalha que tu um dia me deste, porque sempre a amei muito.
Ele abraçou-a e lhe deu um beijo carinhoso na testa, e tapando-lhe com mão a boca, respondeu.
- Pronto amor, não digas mais nada, isso foi à trinta anos.
(08/05/2013)
Joaquim Rodrigues