Passadas quatro horas de se conhecerem na festa. Ele diz-lhe em tom de brincadeira.
- Se algum dia a reencontrar, peço-a em casamento.
Ela ri-se,super divertida, mas não o leva a sério. Estão rodeados de gente que conversa e dança ao ritmo da música da banda que toca num estrado. É a primeira vez que ele veio a este arraial, que só acontece uma vez por ano, e é a primeira vez que fala com ela. Conheceu-a por acaso, deu com ela no meio da confusão, sorriu-lhe, disse uma piada e ainda ali estão, quatro horas depois, a conversar, a rir-se, em perfeita harmonia, entendendo-se instintivamente. Há uma alegria que os rodeia, que os preenche, apesar de só saberem o nome próprio um do outro, pois nem lhes ocorreu perguntar mais nada. É, para ambos, definitivamente, uma noite divertida com a pessoa certa. Os copos estão vazios, ele oferece-se para ir buscar mais duas cervejas. Ela aceita, diz que fica ali à espera. Ele demora-se no bar, porque há muita gente ao balcão e poucos empregados. Quando volta ao local onde a deixou, ela já não está lá. Olha em redor, por entre centenas de rostos iluminados por luzes frenéticas que alternam de cor a cada segundo, mas não a vê. Procura-a por todo o recinto da festa, fura por entre corpos que se apertam no espaço exíguo para tanta gente, examina todas as áreas, indiferente às vozes, aos rumores de gargalhadas, concentrado só no objetivo de a localizar, determinado a descobri-la naquela confusão alegre. Mas é como se ela se tivesse evaporado, não a encontra em lado nenhum.
Ao fim da noite, regressa a casa, sozinho e frustrado, perguntando-se o que terá acontecido, o que a terá levado a ir-se embora. Pensou que ela tinha gostado de si, que estavam em sintonia, e no entanto perdeu-a, ou ela foi-se embora, não sabe.
Volta ao mesmo arraial no ano seguinte e vem do bar com duas cervejas na mão quando se vê defronte dela no exato lugar onde a deixara na festa anterior. Reconhece-a imediatamente.
- Demoraste um ano a trazer essas cervejas, diz ela com graça, satisfeita por o ver novamente.
Ele entrega-lhe o copo que era para um amigo e pergunta-lhe.
- O que lhe aconteceu?
- Fui à casa de banho e, quando voltei, nunca mais te vi.
- Procurei-te por todo o lado, diz ele.
- E eu a ti, responde ela.
- Queres casar comigo? Pergunta-lhe algumas horas depois.
Ela solta uma gargalhada. Não te esqueceste da promessa, repara.
- Claro que não, exclama ele, fingindo-se indignado.
Passou um ano. É a terceira vez que vão ao arraial e a primeira em que vão juntos. Casaram há quinze dias, mas fizeram questão de voltar a tempo da festa onde se conheceram, e se perderam, e se reencontraram. E já decidiram que hão-de continuar a vir todos os anos.
(19/05/2013)
Joaquim Rodrigues