Joaquim Rodrigues
O meu blog: “histórias do coração” ele mostra a beleza e todas as maravilhas que existem em nossas vidas em todos nossos sentimentos tudo em forma encantadora de palavras que nos saem do meu coração, um coração que acredita na vida na felicidade de tudo que a vida nos reserva. O meu coração é um livro sobre o amor que vivem na minha alma. (Aqui encontramos poemas, música, e histórias da vida real) (Joaquim Rodrigues)
segunda-feira, 4 de julho de 2016
"UM DIA DE CHUVA"
Joaquim Rodrigues
A mensagem dela entra no computador através do Facebook
quando ele está a trabalhar. Não a lê logo. Pensa que talvez já seja altura de
a esquecer definitivamente. Afinal de contas, não se encontra com ela há mais
de um ano. Mas é um amor que ficou, apesar de tudo, uma recordação que persiste
num perfume errante que o faz virar a cabeça ao cruzar-se acidentalmente com
alguém que tem o cheiro dela, que poderia ser ela, mas não é; que persiste nos
lugares por onde passa e o deixam preso a olhar com perplexidade, recordando os
momentos em que lá estiveram os dois; é um amor que ficou para trás mas que
teima em regressar com muitos pretextos indesejados que lhe traem a
determinação. Mas, enfim, é só isso, um assunto antigo, resolvido, uma
recordação dissolvida em duas vidas separadas por caminhos divergentes.
Lê a mensagem duas horas mais tarde. É um comentário
banal, para meter conversa, parece-lhe. Responde-lhe com palavras curtas, com a
informalidade de velhos amigos. Ela, porém, insiste, de modo que os comentários
prosseguem no chat, para cá e para lá, pelos dias seguintes.
A pastelaria é como um abrigo caloroso numa rua
movimentada de Inverno. Senhoras idosas entram a sacudir os guarda-chuvas,
refugiam-se à volta de um chá quente a desabafar as suas queixas. Eles os dois
estão sentados a uma mesa junto à janela. Uma velha solitária vem acomodar-se a
uma mesa quase colada à deles. Demora-se a despir uma gabardina donde pingam
restos de chuva, a organizar um acervo de sacos, a encostar à cadeira um
guarda-chuva que teima em escorregar para o chão. A mulher senta-se finalmente,
olha para eles, interrompe-os.
- Estejam à vontade, diz, conversem o que quiserem que eu
cá sou surda. Eles aquescem, abafam o riso, retomam a conversa. Ali estão os
dois, depois de tanto tempo sem se verem. A conversa no chat trouxe-os ali,
àquela pastelaria anónima, onde combinaram um pequeno-almoço tardio para se
verem e actualizarem as vidas distantes que levam hoje em dia. O empregado
traz-lhes café e um pão emborrachado que os faz rir da insipiência que grassa
nesta pastelaria de bairro. Mas nada daquilo lhes importa, senão eles próprios.
Lá fora, o vento forte arrasta gotas grossas de chuva que
deslizam pela vitrina. Dentro, eles falam dos seus dias, como costumavam fazer
noutra vida, e, não obstante tudo o que os separou, descobrem que se entendem
com a mesma facilidade e a mesma alegria de outrora. É uma revelação para os
dois, ainda com interrogações, mas, quando saem da pastelaria, vão rua fora
debaixo de um guarda-chuva, enfrentando juntos a saraivada de chuva e a
pensarem que já sobreviveram a outras tempestades muito piores, e ainda ali
estão.
*****
19/02/2013: in :04/07/2016)
Joaquim Rodrigues
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