Joaquim Rodrigues
O meu blog: “histórias do coração” ele mostra a beleza e todas as maravilhas que existem em nossas vidas em todos nossos sentimentos tudo em forma encantadora de palavras que nos saem do meu coração, um coração que acredita na vida na felicidade de tudo que a vida nos reserva. O meu coração é um livro sobre o amor que vivem na minha alma. (Aqui encontramos poemas, música, e histórias da vida real) (Joaquim Rodrigues)
terça-feira, 5 de julho de 2016
"TRINTA DIAS,TRINTA ANOS"
Joaquim Rodrigues
Conhecem-se no comboio, algures entre Portugal e França. Ela
vai para Paris, ele para Berlim. Têm ambos vinte e poucos anos e viajam
sozinhos. Vêem-se pela primeira vez quando se sentam frente a frente numa
carruagem de passagem por Espanha.
Ele surpreende-a a espreitar por cima do livro que tem nas
mãos, interessada na capa do livro que ele lê. Sorri-lhe.
- Já leste este? Pergunta-lhe.
- Não, responde ela, é bom?
- Para dizer a verdade, não estou a adorar.
- E o teu? Ela encolhe os ombros.
- Eh ! Já li melhor.
E é o início de uma longa conversa que lhes permite
conhecerem-se melhor. Vão assim, por aquelas horas todas, na companhia um do
outro, sempre a falar, sem darem pelo tempo a passar.
Chegados a Paris, despedem-se com a sensação de terem uma
ligação, como se se conhecessem há muito mais do que aquelas escassas horas no
comboio. Mas antes, ele propõe-lhe trocarem de livros.
- Lês o meu e eu leio o teu, depois digo-te o que achei, e
tu fazes o mesmo.
- Combinado, - concorda ela.
Ele lê o livro dela durante o resto da viagem. Ela faz o
mesmo em Paris. Em breve estão de novo em contacto, a propósito dos livros, ou
tendo estes como desculpa para voltarem a falar, pois ficou-lhes uma enorme
vontade de se juntarem outra vez. Atravessam a semana seguinte em permanente
contacto, falando ao telefone, dizendo onde estão, o que fazem, o que pensam
das coisas que vêem ou experimentam. Por fim, não resistindo à distância que os
separa, acabam por combinar um encontro em Estrasburgo, a meio caminho entre
Paris e Berlim. Cada um deverá tomar o seu comboio em direção à cidade
francesa, junto à fronteira com a Alemanha.
Passaram-se trinta anos. Ele está na estação em Estrasburgo
quando ela chega. Abraçam-se. Falam em inglês, porque ela não sabe alemão e ele
não sabe francês. Ela repara que ele agora tem o cabelo todo branco, mas de
resto continua o mesmo. Também ela tem umas rugas mais, mas reconhece-lhe o
mesmo sorriso juvenil de antigamente.
Já lá vão tantos anos e hoje deixaram as suas famílias por
vinte e quatro horas, para se reverem. Recentemente, descobriram-se por sorte
no Facebook e mantiveram o contacto, agora sentam-se num café, abanam a cabeça
com um sorriso desconcertado e pensam como poderiam ter sido diferentes as suas
vidas se tivessem chegado a reencontrar-se naquela época.
Tinham combinado regressar a Estrasburgo trinta dias mais
tarde, mas afinal, por motivos distantes que hoje lhes parecem menores, embora
determinantes na altura, só o fizeram trinta anos depois.
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(05/10/2012:in:05/07/2016)
Joaquim Rodrigues
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