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quarta-feira, 23 de agosto de 2017

" A viagem mais longa"

Joaquim Rodrigues

 Um certo dia ele fez a mala para ir ao encontro dela, para partir de vez, tomando um novo rumo. Agarrados os dois a um amor que nasceu nas suas cabeças combinaram juntos que tudo daria certo. Arruma as coisas e, enquanto o faz, enquanto dobra a roupa e a coloca empilhada no interior da mala, vai pensando no que vai fazer, na decisão que tomou e a aventura que isso representa. Conheceu-a há um ano e meio, mas só tem uma certeza, de que não pode viver sem ela. Por isso prepara-se para uma longa viagem, a maior que jamais empreendeu, a de uma vida nova. Sente-se dividido entre a excitação da felicidade e o medo do desconhecido. O seu coração bate num frenesim, as mãos tremem de nervos, incertas, o espirito anima-se de coragem, procurando não pensar em tudo o que poderá correr mal e só querendo prender-se à certeza da felicidade que o espera. Diz a si próprio que a decisão está tomada e não vai permitir-se desanimar com pensamentos negativos, derrotistas. Quando eles os dois falaram sobre essa possível forma de acabarem os seus dias juntos, tudo era positivo, e sendo assim tudo iria dar certo.
Entra pela madrugada ocupado com questões práticas, arrumações de ultima hora, riscando um a um os artigos de uma lista de coisas que não quer esquecer. Quando se dá por satisfeito, vai tomar um duche demorado com um sorriso nos lábios. É bom saber que tem tudo pronto, pois fá-lo sentir-se preparado. Deita-se tarde. É a última noite nesta casa, nesta cidade. Deita-se cansado mas demasiado excitado para adormecer, de maneira que vai até de manhã a sonhar acordado com a vida que tem pela frente e só cai no sono quase à hora do despertador anunciar a hora marcada. Acorda ensonado e com o mesmo cansaço pendente da noite passada, mas encorajado pela promessa da novidade.
Olha para trás antes de fechar a porta de casa, observando os requisitos dos últimos anos, os móveis, os quadros, tudo aquilo que lhe fez parece ter sido uma vida inteira, um lugar onde se sentia seguro. Deixa escapar um suspiro, abana a cabeça como quem se questiona o que é que eu vou fazer, faz um sorriso desafiador, fecha a porta, roda a chave e parte.
Atravessa o Oceano a dormitar com a cabeça apoiada do braço, à janela, enquanto o Avião avança. Mais para o fim da viagem já está bem desperto e nervoso, numa ânsia de expectativa. Quanto mais perto do destino mais se pergunta se não terá cometido um erro, se não terá precipitado, se não voltará a falhar, se, se, se.
Desce do Avião com um saco, e procura a mala, avança cansado a custo ao longo do cais, lutando com a própria bagagem, tropeçando nela, sem saber se é isso que o irrita se é o receio que o enerva. Mas depois avista-a lá ao longe no fim do cais e ela avança para ele sorridente e, quando se encontram, abraça-a, beija-a e ela diz-lhe que bom estar aqui finalmente, e nesse instante, todos os receios, duvidas, nervos se dissipam num encantamento, numa certeza de que tomou a decisão correcta.

(09/07/2012)
Joaquim Rodrigues