Ele sai do prédio onde ela vivia! Um pouco desorientado. Acabou de saber pela vizinha dela que já não a apanhou. Chega à rua e procura um táxi. Mas não vê nenhum. Vem um autocarro e entra sem pensar, mas logo percebe que não tem passe nem moedas para pagar o bilhete. Discute com o motorista, diz-lhe que é uma urgência, o homem olha para ele espantado.
- Que tipo de urgência? Pergunta.
- Uma urgência de amor! Exclama, um pouco mais alto do que pretendia, mas a aflição e a irredutibilidade do motorista levam-no a quase gritar.
- Ó, meu amigo, urgências dessas são todos os dias! Replica o homem, ou paga o bilhete ou sai.
- Tem multibanco? Pergunta, já desesperado.
O motorista oferece-lhe uma daquelas expressões de falta de paciência. Ele ergue as mãos, como se pedisse desculpa.
- Só perguntei, diz.
O motorista força um sorriso, como que a chamar-lhe parvo. Várias mãos estendem-se na sua direção, mãos de passageiros solidários que lhe oferecem moedas. Agradece-lhes muito, paga, percorre o corredor do autocarro com um sorriso embaraçado de gratidão. Tenta o telemóvel, nada. O autocarro é demasiado lento. Olha para o relógio, tem quarenta e cinco minutos, no máximo. Olha pela janela e vê um táxi vazio que acompanha o autocarro. Faz-lhe sinais com as mãos, mas o taxista não o vê. Dali a pouco estão os passageiros todos a acenar ao táxi. O homem vê-os, encosta no primeiro sinal, ele grita ao motorista para abrir a porta, o motorista grita de volta que só na próxima paragem, os passageiros gritam ao motorista, este encolhe os ombros. Salta do autocarro mais à frente e entra no táxi.
- Para o aeroporto por favor rápido, indica.
(Joaquim Rodrigues) |
- Por favor preciso de falar com uma passageira que já entrou, é uma urgência.
O segurança diz que não pode passar, indica-lhe um balcão onde poderá pedir para chamarem a pessoa pelos altifalantes. Faltam cinco minutos. Não chegou a tempo. Cansado e desiludido, com a camisa toda molhada de transpirado senta-se a uma mesa no bar, ainda afogueado, desmoralizado e com ar triste. No entanto, levanta a cabeça e ali está ela.
- Não partiste?
- Não, depois da vergonha que me fizeste passar, responde-lhe, a sorrir.
Ele também sorri.
- Desculpa.
No derradeiro minuto, arrancou o microfone à funcionária e fez-lhe uma declaração de amor que foi ouvida em todo o aeroporto. Ela avisou que já não partia e saiu da sala de embarque debaixo de uma salva de palmas e assobios felizes.
- Não podia deixar-te partir assim, diz ele.
Ela abana a cabeça, desconcertada.
- O que vou fazer contigo?
- Fica comigo o resto da vida, diz, e logo saberás.
(26/05/2013)
Joaquim Rodrigues