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terça-feira, 1 de outubro de 2013

"Sonhos" (HD) Joaquim Rodrigues


"Uma conversa Casual"


O rapazinho, sentado num banco público, num jardim com vista panorâmica sobre a cidade, come um gelado ao lado do pai.
  - Porque é que te foste embora? Pergunta, entre duas lambidelas no gelado. O pai volta a cabeça para o observar. A pergunta foi feita num tom casual, como se não tivesse importância, mas apanhou-o de surpresa, deixou-o em alerta.
- Não me fui embora, responde-lhe, estou aqui contigo, não estou?
- Estás, mas já não dormes lá em casa.
- Porque agora tenho outra casa, que também é tua.
- Porque é que tens outra casa?
- Porque eu e a mãe decidimos viver assim. Às vezes, os casais preferem separar-se e ficar cada um na sua casa.
O miúdo cai em silêncio, por momentos, a absorver esta informação, enquanto continua a comer o gelado. Tem a boca suja como se a tivesse pintado de vermelho. O pai limpa-a com um guardanapo de papel.
 - E vocês nunca mais vão voltar a viver juntos?
 - Não, vamos viver cada um na sua casa.
- Hum, está bem. Sabes, tenho um amigo na escola que os pais dele também vivem cada um na sua casa. E ele diz que os pais discutiam muito, antes de se separarem, como vocês.
- Nós não vamos discutir mais, diz o pai.
(Joaquim Rodrigues)
Sente uma súbita necessidade de fumar, leva a mão ao bolso, mas não quer fazê-lo à frente do filho e reprime o gesto. A criança continua a falar no mesmo tom inocente, casual, mas cada frase, cada dúvida, é como uma seta apontada ao coração do pai, gela-lhe o sangue.
- Já não gostas da mãe?
- Gosto, mas é diferente, já não quero viver com ela e ela também já não quer viver comigo.
- E eu vou viver com quem?
- Com os dois. Uns dias ficas com a mãe, noutros comigo.
- Era mais fácil se não discutissem mais e continuassem a viver juntos, comigo.
- Assim também vai ser bom, vais ver. Terás dois quartos, vais gostar.
O filho acaba de comer o gelado. O pai volta a limpar-lhe a boca.
- Quando eu for grande e casar, não vou separar-me nunca, declara, determinado. Nesse momento, ele vê-a ao fundo do jardim, a aproximar-se. Aponta na sua direção.
- Olha quem vem ali, diz.
O miúdo reconhece a mãe, corre para ela, abraçam-se. Vai ao encontro deles, troca umas palavras amigáveis com ela, despede-se do filho, fica a observá-los a afastarem-se. Acende então o cigarro proibido, torna a sentar-se no banco, a recapitular a conversa com o filho, a analisar a sua vida, o que fez mal, o mal que terá feito à criança, ainda que involuntariamente. Mãe e filho desaparecem do seu campo de visão e ele sente um vazio. Sabe que não haverá um recuo, não voltará atrás, mas, nesse instante, tem a sensação de ter ficado sozinho no mundo.

(01/09/2013)
Joaquim Rodrigues

"Dama,dama,dama" (HD) Joaquim Rodrigues


"Fantasias"

(Joaquim Rodrigues)

Eu quando invento um poema, nele, lembro sempre o amor.
O amor faz-me sobreviver, dá-me paz, luz, no meu dia-a-dia.
Escrevo sempre em rimas, a vida faz-me rimar no amor, na dor.
E assim entrego-me com o coração á minha escrita, à poesia.
 
Escrevo um poema com lágrimas nos olhos, e na mão, uma flor.
E quando molhada de orvalho, eu o bebo na paz da melodia.
Flor que colho de madrugada ao nascer do sol com muito amor.
Para te oferecer com carinho, ternura, alma e fantasia.
 
Continuarei a escrever sem nunca me sentir estrela.
Escreverei enquanto podere, e o verso morra.
Durmo e acordo, serei eu, em cada momento de mim.
Sempre escreverei, como um pintor pinta, uma aguarela.
Junto ao mar, com uma montanha em frente, ou na minha janela.
Eu quererei sempre ver o encanto da vida, o meu jardim.
 
(01/10/2013)
Joaquim Rodrigues