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sábado, 6 de abril de 2013

"Diário Intimo" (HD) Joaquim Rodrigues


"Conversas de Mulheres"

Entram os dois na galeria. É a inauguração da nova exposição. Palácio da bolsa. O ambiente é soturno, paredes azul-escuras onde estão pendurados os quadros. Retratam mulheres antigas, que podem ser estrelas de cinema do século passado, encantadoras, sedutoras, independentes, envergando ricos vestidos, numa sucessão de bonitas molduras douradas, trabalhadas. Encontram um grupo de amigos, juntam-se a eles. Uma das amigas puxa-a para o lado, dá-lhe o braço, afasta-a do grupo.
- Então, que se passa? Pergunta-lhe.
- Nada, responde ela, porquê?
- Hum, a mim não me enganas, não estás nos teus dias. Chateada com alguma coisa?
Ela olha para trás, para o grupo onde está o namorado, hesita.
- Ele disse que gosta de mim, afirma.
A amiga abre os braços, perplexa com a tristeza dela.
- Não é o que tu queres?
- É, diz.
- Então, qual é o problema?
Ela faz uma cara de dúvida.
- Não sei, confessa.
- Não sabes se gostas dele?
- Sei, sim, gosto, não é isso, não sei se ele gosta mesmo de mim.
- Não foi o que ele disse?
- Foi, mas. Oh, sei lá, não ligues. Sabes como é.
A amiga faz que sim com a cabeça.
- Sei, diz. Ahhh, irrita-se consigo própria, com a situação.
- Ontem à noite, conta, ele trouxe-me flores e disse que me amava. Fez-me uma declaração, estás a imaginar? Foi bonito, mas só que. Estamos juntos há quase cinco meses e ele nunca me ofereceu flores.


A amiga encolhe os ombros.
- Apeteceu-lhe, diz, quis fazer-te uma surpresa.
- Achas? Reage ela, desconfiada. Nunca me deu flores, e de repente aparece com um ramo em casa, assim sem mais nem menos.
A amiga apoia o queixo no polegar, o indicador pousado na linha dos lábios, pondera a questão.
- Achas que fez alguma? Pergunta-lhe.
Ela lança-lhe um olhar espantado, como se não tivesse pensado em tal coisa.
- Não, não é isso, responde.
 - Não?
 - Não, assevera, o problema é que às vezes fico com a impressão de que ele não gosta tanto de mim como diz. Acho que as flores foram para me compensar, percebes?
- Não acreditas quando ele diz que te ama?
- Acredito que ele quer gostar, mas não sei se gosta mesmo.
- Olha, conta a amiga sem pensar, o meu primeiro trazia-me montes de flores e depois deixou-me, este nunca me trouxe flores e não se vai embora de certeza.
Ela revira os olhos, exasperada com a amiga.
 - Obrigadinha, diz, é reconfortante saber isso, estou muito mais tranquila.
A amiga repara no que disse, começa a rir-se, contagia-a, acabam as duas às gargalhadas. Voltam para junto dos amigos, dos namorados, ainda a sorrir.
 - Estão muito divertidas, comenta um deles.
- O que se passa?
- Nada, dizem, encolhendo os ombros,
- Conversas de mulheres.

(10/12/2012)
Rodrigues Joaquim

"Vamos" (HD) Joaquim Rodrigues


"Tango"

(Joaquim Rodrigues)

Vou percorrendo teu corpo.
Que o dispo lentamente.
Minhas mãos entrelaçadas.
Nas tuas dissipam no palco.
Num tango.
Avanço.
Rodopiando na pista.
Num passo de dança.
Nossos corpos balançam.
Bailamos agora.
Um tango.
Somos dois loucos!
Em passos embriagados.
Cadenciados.
Compassados.
Passos longos.
Rasgados.
Rasgo teu decote.
E olho teus seios.
Passo a passo, de dança.
Dançamos.
Freneticamente mas sós.
(Unidos!)
(Entrelaçados!)
(Afastados nós?)
Num tango?
Vamos dançar agora os dois.
Um tango!
 
(05/04/2013)
Joaquim Rodrigues

"Breve" (HD) Joaquim Rodrigues


"Lembranças"

(Joaquim Rodrigues)
Esquercer-te,
seria perder,
a minha identidade.
Mudar a minha vida,
a minha personalidade,
apagar o melhor,
que a vida, me deu.
(Eu te Amo)
 
(20/02/2013)
Joaquim Rodrigues

"Sim Amor" (HD) Joaquim Rodrigues


"Um amor, para a internidade"

(Joaquim Rodrigues)

Eu já conheço esse teu olhar triste.
E todas as saudades que sentes.
Nunca soube foi porque partiste.
Nem porque ainda me mentes.
 
Ninguém pode enganar o coração.
Ninguém consegue matar o amor.
Quem o fizer, sentirá a maldição.
Que o vai perseguir, até onde for.
 
Na vida, nem sempre devemos.
Querer ter razão em tudo.
No que sentimos ou fazemos.
Porque vai parecer, absurdo.
 
A onde tu queres ir, te seguirei.
De ti nunca estarei ausente.
Pois sinto que sempre voltarei.
Nesta saudade internamente.
 
Como tenho tanta certeza?
Não sei, não tenho explicação.
Mas quem te amou, como eu amei.
Nunca mais te tirará do coração.
 
Minha vida, foi feita para amar assim.
Meu corpo, e minha alma, não mente.
Sempre te guardarei dentro de mim.
Meu maior amor, um eterno presente.
 
(06/04/2013)
Joaquim Rodrigues

"Trago Flores" (HD) Joaquim Rodrigues


"Notalgias III"


Vai tomar um café ao fim da tarde, farta de estar em casa a remoer tristezas e fracassos. Sai para espairecer. Entra numa pastelaria, escolhe uma mesa afastada do bulício alegre de um grupo de jovens que ri alto. Hoje em dia não consegue estar muito tempo tranquila no seu canto, porque as pessoas reconhecem-na e vêm falar com ela.
No início era divertido, quando começou a ser conhecida pelas suas músicas que passavam na rádio, pelas entrevistas, os concertos, mas agora já não tem tanta graça. Enfim, faz parte da vida de artista, resigna-se, forçando um sorriso para os estudantes que já perceberam quem é e pasmam para ela com uma desconcertante impudência. Terminou recentemente uma relação caótica com um músico da sua banda e sente um imenso vazio. Mas não é dele que tem saudades, pois reconhece que foi um erro e está bastante aliviada por ter acabado.
O que a deixa angustiada é a consciência de que deixou o homem certo por um indigente moral e que o desprezou quando ele só merecia o melhor dela. Quer voltar para ele, pedir-lhe desculpa, ficar com ele para sempre, mas não acredita que a perdoe porque ela própria, se estivesse no lugar dele, não teria a nobreza de espírito suficiente para a perdoar. Não obstante, reconhece que ele merece uma satisfação e que terá de ir ao seu encontro porque um telefonema não é suficiente.



Espera sentada no carro que o bar feche e os últimos clientes se vão embora. Olha para o relógio, passam dez minutos das três da manhã. Finalmente, respira fundo, controla os nervos, sai do carro, atravessa a rua. Fica parada à entrada do bar, vendo-o sentado à mesa do costume, no canto à sua direita. Aguarda que lhe diga alguma coisa.
 - Estava a pensar em ti, afirma ele.
 -O quê?, pergunta.
A pensar se voltarias um dia.
 - Nunca me fui embora, responde ela, na minha cabeça estive sempre aqui.
E nesse preciso instante compreende quão verdadeira é essa afirmação, "estive sempre aqui", pensa, mais saudosa do que imaginava.
Nota-lhe a sombra de um sorriso, uma desconfiança perpassando-lhe pela mente.
 - Queres sentar-te? Convida-a.
Ela tira o casaco, senta-se. Ele serve-lhe uma bebida. Parece-lhe cansado, mas pode ser só a expressão grave, que não lhe é habitual. Mas depois ele descontrai-se um pouco e diz então.
 - Conta lá por onde tens andado.
E uma esperança invade-lhe o coração e ela confessa de uma vez o arrependimento que a traz ali, a angústia que não a deixa dormir, e a saudade que a faz infeliz.

(11/09/2012)
Rodrigues Joaquim:

"Dança do Amor" (HD) Joaquim Rodrigues