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domingo, 12 de abril de 2015

"HUMILDADE"


A noite depois de jantar com o marido e de arrumar a cozinha enquanto ele dormita já no sofá em frente à televisão. Ela sai de casa. Tem o álibi perfeito para se ausentar sem levantar suspeitas ao seu marido comatoso, esgotado de um dia de trabalho. Vai passear o cão. Embora se demore sempre uma hora e meia na rua, tempo mais do que suficiente para não dizer demasiado para o animal fazer as suas necessidades, ela não tem nada a recear. O marido baba-se a dormir no sofá e nem dá pelo passar do tempo, mas, mesmo que desse, era-lhe indiferente. Ele tem uma fraca auto-estima e, consequentemente, não a tem em grande conta. Pensa que se ela fosse mulher de muitos predicados não estaria com ele. Esta sua indigente consideração pelo dois dá-lhe segurança, nada teme, pois tem a certeza de que a mulher não o pode enganar porque ninguém a quer. Não podia estar mais enganado. Ela sai com o cão, percorre nem cinquenta metros, entra no terceiro prédio a contar do seu. O vizinho, que todas as manhãs cumprimenta gentilmente o marido dela na rua, espera-a ansiosamente. Faz agora seis meses, o vizinho surpreendeu a mulher com outro homem na sua própria cama. 

                                                                 Joaquim Rodrigues

Depararam-se, agora delicia-se com as carnes opulentas e moles da amante, e o que lhe dá mais gozo é ela trair o marido por sua causa. Ele está convencido de que as mulheres têm vantagem em relação aos homens porque, como eles vão com a primeira que conquistarem, elas podem escolher aquele que quiserem. A sua mulher escolheu-o, mas depois escolheu o colega de trabalho sem que, e tem a certeza disso, tivesse feito nada para o ter, foi a oportunidade, ele seduziu-a durante as horas que passavam na empresa. Ele ainda a deseja, mas odeia-a pela humilhação. De modo que o seu caso secreto com a vizinha representa, ao mesmo tempo, uma compensação pela perda sofrida e uma vingança, ainda que se desforre no vizinho inocente. A mulher que lhe bate à porta com um cãozinho odioso que fecham na cozinha antes de se enredarem nos lençóis desfeitos da cama dele, pensa que o amante é um milagre inesperado, um homem muito melhor do que o seu, e o caso com ele é algo que nunca imaginou que ainda fosse possível viver. Sente-se renascida e abençoada pela sorte. Quem diria que um tipo tão bem apessoado haveria de olhar para si? Ela sempre achou que não podia ambicionar melhor do que o marido, homem bom mas medíocre, por isso agarra-se a cada momento do seu adultério com felicidade e deleite, certa de que é só até ele se fartar. 

(10/04/2015) 
Joaquim Rodrigues

"Meu amigo está longe" HD

                                                               Joaquim Rodrigues

" Sou um palhaço"


De ar e figura patética, tu oh palhaço
Finges ter alegria de coração triste
Rosto pintado, e cabelo palha de, aço
Imitando um boneco desengonçado

Dele todos se riem às gargalhadas
É alegria de crianças e outros muitos
É sucesso absoluto de palhaçadas
Onde quem mais ri, são os adultos

Sempre perguntei quem é o palhaço?
Trago esta triste recordação de infância
Serei eu, será ele, quem eu sou palhaço
Arrasto comigo a ideia, nesta distância

Tenho saudades da infância e da pipoca
Do mundo em uma tenda onde ele mora
Hoje o circo é outro é viver todos na toca
Eu sou o palhaço que não ri, mas chora

Até amizade fugiu sem deixar abraços
O novo de ontem é o velho infindável
Tudo mudou, o mundo é diferente

O desafio é continuar como palhaços
Hoje nada é igual, tudo é descartável
Olha que o fim vem já ali, de repente

 (26/03/2015)
Joaquim Rodrigues

Joaquim Rodrigues

"Não me condenes por amor" HD

                                                               Joaquim Rodrigues