Lê a mensagem duas horas mais tarde. É um comentário banal, para meter conversa, parece-lhe. Responde-lhe com palavras curtas, com a informalidade de velhos amigos. Ela, porém, insiste, de modo que os comentários prosseguem no chat, para cá e para lá, pelos dias seguintes.
(Joaquim Rodrigues) |
- Estejam à vontade, diz, conversem o que quiserem que eu cá sou surda. Eles aquiescem, abafam o riso, retomam a conversa. Ali estão os dois, depois de tanto tempo sem se verem. A conversa no chat trouxe-os ali, àquela pastelaria anónima, onde combinaram um pequeno-almoço tardio para se verem e atualizarem as vidas distantes que levam hoje em dia. O empregado traz-lhes café e um pão aborrachado que os faz rir da insipiência que grassa nesta pastelaria de bairro. Mas nada daquilo lhes importa, senão eles próprios.
Lá fora, o vento forte arrasta gotas grossas de chuva que deslizam pela vitrina. Dentro, eles falam dos seus dias, como costumavam fazer noutra vida, e, não obstante tudo o que os separou, descobrem que se entendem com a mesma facilidade e a mesma alegria de outrora. É uma revelação para os dois, ainda com interrogações, mas, quando saem da pastelaria, vão rua fora debaixo de um guarda-chuva, enfrentando juntos a saraivada de chuva e a pensarem que já sobreviveram a outras tempestades muito piores, e ainda ali estão.
19/02/2013:
Joaquim Rodrigues:
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