O meu blog: “histórias do coração” ele mostra a beleza e todas as maravilhas que existem em nossas vidas em todos nossos sentimentos tudo em forma encantadora de palavras que nos saem do meu coração, um coração que acredita na vida na felicidade de tudo que a vida nos reserva. O meu coração é um livro sobre o amor que vivem na minha alma. (Aqui encontramos poemas, música, e histórias da vida real) (Joaquim Rodrigues)
quarta-feira, 6 de março de 2013
"O METEORITO"
Foi tudo muito rápido. Natália entrou na vida dele a uma velocidade estonteante. Deixou-o siderado, apaixonado, hipnotizado, cansado. No final, desapareceu como tinha chegado: depressa. Sempre a abrir. E deixou um rasto de destruição, com fragmentos espalhados por vários patamares da existência dele: no trabalho, em casa, no ginásio, no carro. Para todo o lado onde olhasse, ele lembrava-se dela e do que tinham vivido. Afinal, ela era tudo o que ele sempre desejara. Tudo o que ele sempre pensara quando pensava em mulheres ideia. Tudo o que ele despia com os olhos da imaginação sempre que suspirava por corpos escaldantes enrolados no corpo dele - a frase é pirosa, mas ele também pensava piroso. Pensava em forma de clichés: mulheres-polícia a algemarem-no a uma cama, hospedeiras de farda curta a servirem-lhe café, médicas de decote generoso a medirem-lhe a pulsação... E tudo o resto que vinha depois na cabeça dele. Naqueles dois meses, ela foi tudo isso. Ela fez tudo isso. E muito mais. Natália personificava o santo graal dos engates imaginários que aquela alma alguma vez tinha sonhado. Por vezes eram morenas, outras louras, uma ou outra ruiva. Por vezes pensava em colegas do trabalho, outras vezes na funcionária das Finanças que o tinha atendido, na empregada de balcão que lhe tinha servido o café, na diretora de serviço que só tinha visto uma vez, na condutora do carro ao lado que se tinha esfumado depois do semáforo, na cliente à frente na fila do supermercado. Nesse aspeto, ele era como todos os homens: quando idealizava sexo com alguma mulher, oscilava entre o fetiche de sempre, entalado até ao dia em que finalmente é resolvido, e o encontro casual, não programado, com uma estranha, que descamba em beijos e coito no elevador. Mas aquela loura em particular, que ele tinha conhecido num site de encontros, por quem tinha caído de quatro, que viraram (explodiu!) o mundo dele do avesso e que o fez ter vontade de mandar tudo à fava, aquela era de carne e osso e encarnava todo o desejo do mundo numa só pessoa. Até o facto de ela ser natural de Cheliabinsk, junto aos montes Urales, na Rússia, tal como Irina Sheik, a namorada de Cristiano Ronaldo, era visto como um sinal dos céus. Cada um vê o que quer, mas ele via uma deusa russa, de rosto perfeito, lábios carnudos, cabelo liso, pescoço delicado, pernas compridas, pés lindos, mamas do tamanho certo e rabo com um pouquinho de celulite... Tal como ele gostava. Natália era também boa conversadora, gostava de cerveja, tinha simpatizado com os amigos dele (que a adoravam, tanto quanto o invejavam a ele), sabia contar anedotas, dizia que tinha vontade de experimentar sexo com ele e outra mulher e sonhava com o dia em que teria filhos. Nos 62 dias (ele contou-os) que o romance galáctico durou, foram em vão as tentativas de encontrar defeitos ou pequenos detalhes de que não gostasse tanto. Ali não havia defeitos. Quer dizer, devia haver, mas ele não os tinha descoberto. Ainda. Se dúvidas houvesse que Natália era uma enviada do cosmo, elas desfizeram-se a 15 de fevereiro. No mesmo dia em que um meteorito de dez mil toneladas e 17 metros de diâmetro entrou na atmosfera terrestre e se desintegrou sobre Cheliabinsk, ela sumiu da vida dele. Assim, sem mais. Kaput! A onda de choque provocou 1200 feridos na região e o som infernal foi ouvido no Alasca, a sete mil quilômetros de distância. E até passou a ser noticia principal em todo mundo, do Brasil à China passando por Austrália. Em Portugal, não se ouviu, mas sentiu-se. E o ferido 1201 ainda hoje tem estilhaços no coração.
(25/02/2013)
Joaquim Rodrigues:
"HISTÓRIA ENCANTADA"
Aconteceu como acontecem todas as coisas estranhas que mudam uma vida: inadvertidamente. Com efeito, foi uma surpresa e, apesar de casada, não estava preparada para lhe voltar as costas. Numa tarde que tinha livre, tão quente como se fosse verão, ela decidiu sentar-se num pequeno restaurante de praia, vazio, onde havia apenas uma mesa corrida sob um alpendre de palha. Ficava numa praiazinha esconsa e não havia senão o dono que fazia petiscos improváveis naquela tasquinha sem nome. Adorou a comida, o mar, a areia quente onde afundou os pés descalços. Voltou na semana seguinte e foi recebida com uma exclamação feliz que ele reservava às pessoas conhecidas. Serviu-lhe uma enorme travessa de peixe e ela pediu-lhe que lhe fizesse companhia, porque não queria estar sozinha. Ele encolheu os ombros, disse que sim, com muito prazer. Agora ela volta sempre que pode. Ele conquistou-a pela comida e pela graça como conta histórias encantadas. Diz que mergulha naquele mar em frente e conhece um mundo inteiro debaixo de água que as pessoas não imaginam. Permite um sorriso ténue no rosto grave quando lhe fala de catedrais esculpidas em rochas que ninguém suspeita e lhe revela as suas conversas com os peixes. Enfeitiçada com as suas fábulas, finge-se séria, pergunta-lhe mais pormenores desses diálogos com os peixes. Ele tem muitos, e muitas histórias, pode falar a tarde inteira e fazê-la esquecer-se da vida. Há um quarto nas traseiras, para onde vão. Ela navega num amor deslumbrado. Mas ele diz-lhe que ela não lhe pertence, que, um dia, deve voltar para a sua família. Quando será esse dia? Pergunta-lhe, surpreendida. Em breve, diz, quando já não precisares de mim. Ela jura-lhe que não o deixará, ele garante-lhe que sim. E realmente, um dia, o marido pede-lhe para chegar mais cedo a casa e, sem pedir satisfações, oferece-lhe flores, diz-lhe que a ama e que não seria capaz de a trocar por nada, nem por um mundo encantado ou uma cabana à beira-mar. Abraça-a e ela não adivinha como soube, porque não pode ter sabido, e, embora desolada, no dia seguinte vai à praia para se despedir do seu amor impossível e encontra só uma barraca abandonada, que não é o restaurante que conhece, e não há sinal dele, senão umas pegadas solitárias que se dirigem para o mar, sem regressarem. Ela faz um sorriso desconcertado, abana a cabeça, perplexa, pensa que não pode ter imaginado tudo... Já lá voltou e perguntou por ele a vários pescadores e teve sempre a mesma resposta: não há ali ninguém e a barraca está vazia há anos. No entanto, ele vive no seu coração, na sua memória, e ela sabe que os pescadores estão enganados.
(06/01/2013)
Joaquim Rodrigues:
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