O meu blog: “histórias do coração” ele mostra a beleza e todas as maravilhas que existem em nossas vidas em todos nossos sentimentos tudo em forma encantadora de palavras que nos saem do meu coração, um coração que acredita na vida na felicidade de tudo que a vida nos reserva. O meu coração é um livro sobre o amor que vivem na minha alma. (Aqui encontramos poemas, música, e histórias da vida real) (Joaquim Rodrigues)
terça-feira, 12 de março de 2013
"Premonição"
Hoje ela liga o rádio logo de manhã, enquanto prepara o pequeno-almoço na cozinha. Nunca o faz, é um gesto impulsivo. Está a dar uma música que não ouvia há muito, que costumava escutar com ele, mas depois arrumou num canto esquecido da memória, como fez com tudo o que lhe dizia respeito. Agora, passados aqueles anos, ao ouvir inesperadamente a música, recorda-se dele com um certo sabor a nostalgia. Deixa-se ficar a ouvir, a recordar a letra, I crossed all the lines and I broke all the rules/ But baby I broke them all for you/ Because even when I was flat broke/You made me feel like a million buck / You do/ I was made for you.
Escuta a música e pensa que ele era isto mesmo, capaz de quebrar todas as regras por ela, de fazer tudo por ela e, no entanto, um dia deixou-o. Na altura pensou que era melhor assim, pensou... pensou que ele não era suficientemente bom, foi isso. Abandonou-o de qualquer maneira, uma conversa embaraçosa enquanto tomavam uma bica e lhe dava as suas justificações fúteis, um suspiro enquanto se afastava apressada do café. Na altura, sentiu-se tão aliviada por ter despachado o assunto que nem pensou nele, não pensou em mais nada. Dá-se conta de que a música acabou, levanta-se da cadeira, desliga o rádio, pega na carteira, sai de casa. No elevador, ocorre-lhe que foi injusta, ele não merecera a falta de estima, o descuido com que o tratou, mas depois encolhe os ombros, estas coisas são mesmo assim, pensa, acabou, ponto final, não lhe atendeu mais o telefone, e então?
Estiveram uns dias de chuva, como se o Verão tivesse acabado, mas ao sair para a rua apercebe-se de que o Sol voltou. Sente-se feliz, vai caminhando até ao metro atenta às montras, toma nota mentalmente de algo que quer comprar, pensa fazê-lo à hora do almoço. Desce as escadas do metro, chega à plataforma quando as portas do comboio se fecham. Não se importa, não está atrasada. Observa-o distraída a partir e, nesse instante, tem uma visão e o sangue gela-lhe nas veias, o coração salta. Ele está ali, à sua frente, no comboio, e ela não sabe o que fazer, não consegue pensar, não reage.
É só um momento, ele não a vê, o comboio acelera, parte. Fica paralisada, a pensar na música premonitória, a pensar nele. Está igual, o mesmo de sempre, não envelheceu, aquela expressão descontraída, o ar simpático de que mal se lembrava mas é como se o tivesse visto ontem. Vem-lhe tudo à cabeça, as recordações todas, os momentos bons, as promessas felizes, um jantar especial, um dia na praia... e então sente uma angústia, tem uma enorme sensação de perda, uma certeza de que nunca ninguém a amou como ele. E já passou tanto tempo...
22/02/2013:
Joaquim Rodrigues:
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