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quinta-feira, 30 de maio de 2013

"Nada Mais" (HD) Joaquim Rodrigues


"O Poema do meu Pai"

(Joaquim Rodrigues)
“Pai, faz-me um poema para mim?
Queria  oferecer, a uma amiguinha da minha turma.”
 
“Claro que sim, meu filho! Como te posso dizer que não?!
Olha, eu vou escrevendo, e tu vais dizendo se gostas.”
 
Um dia, lá para o Inverno,
Quando o céu cedo escurecer.
Vou trocar contigo,
Os meus lápis de côr.
 
“É esse o poema? Só assim?!
Que palermice, obrigado!
Não te incomodo mais.
Hoje estás sem inspiração, já vi!”
 
“Espera! Não me deixaste concluir.”
 
Se de ti receber nos meus olhos.
A cor linda dos teus,
Para contrariar a luz...
Que vai faltando à tarde!
 
“Ah, assim está muito melhor!
Obrigado, meu pai, até logo”
 
(30/05/2013)
Joaquim Rodrigues

"Carta dos Dias Perdidos" (HD) Joaquim Rodrigues


"Um Inesquecivel Momento"


Está sentada no largo cadeirão de cabedal gasto, o seu favorito, na sala. Tem as pernas recolhidas sob si, puxa as calças do pijama para tapar os pés descalços, distraidamente, sem tirar os olhos da página que lê. Mas logo fecha o livro no colo, tendo um pensamento súbito, talvez sugerido pela leitura, levanta os olhos e observa-o a ler o dele, sentado no outro sofá.
- Nunca mais serei aquela que um dia fui, murmura.
Ele levanta os olhos do livro, surpreendido. Vê que o contempla com um olhar melancólico e Sorri-lhe, ela sorri-lhe de volta, acentuando a melancolia na sua doce expressão.
- Que disseste? Pergunta ele.
- Estava a pensar que, depois de ti, nunca mais serei aquela que um dia fui. Diz, como se fosse uma consciencialização de algo que sabia mas nunca ponderou, e que agora a atinge, reveladoramente. Ele sorri-lhe ainda, desconfiado do seu pensamento.
- Algum arrependimento de última hora? Pergunta ele.
Ela sorri-lhe ainda mais, com uma secreta euforia de felicidade, porque está com ele e é tudo o que deseja, apesar de ser ainda um pouco irreal. Abana a cabeça.
- Nenhum arrependimento, afirma, pelo contrário.
- Ah, bom, diz ele, agora assustaste-me.

(Joaquim Rodrigues)
Ela ri-se e a curta gargalhada ecoa na sala de escassa mobília, que tanto trabalho lhes deu e, no entanto, continua a parecer vazia. Mudaram-se há quase uma semana e é a primeira noite que sossegam, que pegam num livro, que não estão sempre a falar.
- Lê o teu livro, estava só a pensar alto, diz ela, voltando a abrir o seu no colo, esperançada que ele não se renda à leitura. Ele recomeça a ler, mas não consegue voltar a concentrar-se nas palavras. Desiste, pergunta-lhe.
- Mas porque pensaste isso? O que queres dizer?
- Não te preocupes, foi um pensamento bom, responde-lhe, satisfeita porque ele não aguentou nem um minuto em silêncio.
- Mas, pensaste alto, agora explica-me, insiste ele.
Ela vê-o um pouco preocupado e isso agrada-lhe, dá-lhe segurança, entende-o como um sinal de que gosta dela e não a quer perder. Mas quer sossegá-lo.
- Está bem, diz, eu explico, estava a pensar que só nos conhecemos há uns meses e já me mudaste para melhor. Estou feliz e nunca mais serei a mesma. Percebes agora?
- Sim, diz ele, mais descansado.
- Acho que é importante pensarmos nas coisas que nos fazem felizes, acrescenta ela, eu pensei nisto agora e tenho a certeza de que nunca mais me vou esquecer deste momento, aqui contigo.
- Como a chuva a cair-nos no rosto numa tarde quente, diz ele a brincar.
- Isso mesmo, concorda, séria. Ele levanta-se, aproxima-se, fá-la levantar-se, abraça-a, e diz-lhe.
  - Tens razão, sabes? Também não me vou esquecer deste momento, nunca mais.

(28/05/2013)
Joaquim Rodrigues