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quarta-feira, 22 de maio de 2013

"Um conto que não estava Bem" (HD) Joaquim Rodrigues


"A Varanda do Hotel"


Foi há muito, muito tempo, mas ele lembra-se como se fosse hoje desse episódio fugaz que o marcou indelevelmente a vida. De tempos a tempos ainda regressa ao hotel onde a conheceu, já não com a esperança de a reencontrar, embora, no fundo, persista a fantasia de imaginar como seria se desse com ela tantos anos depois. Faz hoje exatamente dez anos que se conheceram na larga varanda onde serviam refeições leves. Lembra-se de ter fechado os olhos protegidos pelos óculos escuros, deleitado com o Sol quente do final desse Inverno, e, ao reabri-los, ter reparado que ela se sentara à mesa do lado. Sorriu-lhe, ela retribuiu. Era uma mulher bonita e o seu cabelo, de um amarelo quase branco, fulgia com o reflexo da intensa claridade do dia. Acendeu um cigarro, estendeu-lhe o maço, ela rejeitou educadamente.
- Obrigado, não fumo, disse.
Comentou que era agradável aproveitar aquela varanda num dia soalheiro. Ela concordou. Continuou a falar. Não era o seu género meter conversa, muito menos sair-se bem, mas estava inspirado, eloquente, bem-disposto, fê-la rir-se com gosto. À frente deles estendia-se um extraordinário jardim desenhado à tesoura, com sebes geometricamente recortadas. A conversa fluiu pela tarde, continuou durante um passeio tranquilo pelo jardim florido, acabou de novo na varanda com o Sol mortiço, uma chávena de chá. E, no final do dia, ficaram com a sensação de se conhecerem há muito. Convidou-a para jantar, ela recusou.
 

 - Hoje não posso, disse, mas talvez amanhã, se nos encontrarmos aqui.
- Combinado, respondeu, entusiasmado.
- Combinadíssimo, reforçou ela, sorridente.
No entanto, no dia seguinte não compareceu ao encontro e, ainda hoje, ele não sabe porquê. Não estava hospedada no hotel e não havia forma de a localizar, perdeu-lhe irremediavelmente o rasto. Contudo, ficou sempre aquela impressão de se entenderem perfeitamente, de natural cumplicidade. Agora, sentado à mesma mesa, na mesma varanda do hotel, fecha os olhos e imagina que, ao reabri-los, como seria ao descobri-la sentada ali ao lado como na primeira vez. Isso não acontece, evidentemente. Mais tarde, ao sair do hotel, cruza-se com uma mulher de cabelo loiro quase branco no preciso momento em que o empregado o chama, trazendo uma chave esquecida, e ele, voltando-se para o homem, não dá atenção ao vulto que passa por trás de si. Ela também não lhe vê o rosto e não o reconhece de costas. Ele vai-se embora e ela vai sentar-se na varanda, à mesma mesa de sempre, onde, por vezes, gosta de aproveitar o sol e imaginar como seria se ele aparecesse de repente e retomassem a conversa como se não tivessem passado dez anos.

(10/03/2013)
Joaquim Rodrigues:

"Partidas" (HD) Joaquim Rodrigues


"Tu Consegues"



Tu vais conseguir com o tempo, tudo o que queres.
E vais perceber também, que para se ser feliz.
Com uma outra pessoa.
Tu precisas em primeiro lugar, não precisares dela.
 
Percebes também, que aquele alguém que tu amas.
Ou achas que amas, mas que não quer nada contigo.
Definitivamente não é a pessoa da tua vida.
Tu vais aprender a gostar de ti, a cuidar de ti.
 
E principalmente gostar de quem também gosta de ti.
O segredo é não correr atrás das borboletas.
E sim cuidar do teu jardim, para que essas borboletas.
Venham até ti no final de contas.
 
Tu vais encontrar quem estás procurando, tenho a certeza.
Como vais encontrar, quem está procurando por ti!
EH! Eu acredito, que tu vais conseguir encontrar o que queres.
Mas por favor, tens que aprender primeiro a gostar de ti.
 
(22/05/2013)
Joaquim Rodrigues