O meu blog: “histórias do coração” ele mostra a beleza e todas as maravilhas que existem em nossas vidas em todos nossos sentimentos tudo em forma encantadora de palavras que nos saem do meu coração, um coração que acredita na vida na felicidade de tudo que a vida nos reserva. O meu coração é um livro sobre o amor que vivem na minha alma. (Aqui encontramos poemas, música, e histórias da vida real) (Joaquim Rodrigues)
domingo, 2 de junho de 2013
"Encruzilhada"
- É como diz a canção, afirma ele com uma ponta de ironia, - não quero falar de como me partiste o coração.
Ela sorri com um ar culpado.
- Isso foi no início do Verão, lembra-o, agora estamos quase no fim.
No início do Verão eles zangaram-se e ela deixou-o especado nesta mesma praia. Não voltaram a ver-se até ela lhe telefonar.
- E o teu marido? Pergunta-lhe, subitamente.
- O que tem?
- Continuas casada com ele, certo?
- Certo, confirma ela, irritada com a pergunta.
- O teu marido, de quem tu não gostas, insiste, à laia de comentário.
Ela encolhe os ombros.
- Sempre foi cómodo para ti que eu fosse casada.
- No princípio, talvez, depois deixou de ter graça, replica. Quando tens de voltar para casa?
- Amanhã, ele volta amanhã de Lisboa.
- Hum, Resmunga ele.
E, de repente, já caíram de novo no assunto que os separou. Ontem à noite, em casa, ela surpreendeu-se a observar o marido. Ele a ver televisão, despreocupado, ela a fingir que lê um livro, a espreitá-lo pelo canto do olho, com um turbilhão na cabeça. Acabou de confirmar que está grávida. E não ama o marido. Na realidade, não suporta a ideia de continuar a viver com ele. Mas são duas notícias demasiado fortes e custa-lhe ter essa conversa. Chega a abrir a boca, mas não lhe sai nada, não tem coragem. De modo que decide marcar o encontro na praia e deixar para depois a conversa com o marido.
Estão sentados na praia enquanto o Sol desaparece. O Outono está a chegar, ela afunda os pés descalços na areia para aproveitar o calor acumulado durante o dia. Puxa a saia com as duas mãos, esticando-a abaixo da curva dos joelhos para tapar as pernas dobradas, prende o cabelo atrás da orelha com um gesto nervoso. Quer contar-lhe, tem de lhe contar, foi para isso que veio.
- Vais continuar com ele?
- Não, vou deixá-lo.
- Quando?
- Digo-lhe quando chegar de Lisboa.
Ele remete-se ao silêncio e ela pensa que não é bom sinal.
- Estou grávida, ouve-se dizer.
Ele volta a cabeça, espantado.
- Como?!
- Estou grávida, repete.
- E vais deixá-lo agora?!
Ela, aflita, com os olhos marejados, pensa que ele vai achar que fez de propósito, que é uma armadilha.
- O filho não é dele, anuncia.
- Não é dele? Gagueja, então, quer dizer.
Ela faz que sim com a cabeça. Ele demorou o seu tempo a encaixar a notícia, mas, ao fim de uns minutos, passa-lhe o braço por cima dos ombros e pergunta-lhe com um sorriso.
- Já pensaste num nome para ele?
E ela, tremendamente aliviada, fecha os olhos um segundo e, finalmente, volta a respirar.
- Quem te disse que é um rapaz?
- Porquê, tens mais alguma novidade de choque para me dar?
Ela ri-se.
- Não, diz, pode muito bem ser um rapaz.
(02/06/2013)
Joaquim Rodrigues
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