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quarta-feira, 8 de maio de 2013

"Outros Tempos" (HD) Joaquim Rodrigues


""Se me Amas Da-me a tua Password"


As relações humanas são terreno fértil para os maiores sinais de que os homens, e mulheres pode ser uma criatura fantástica ou, uma verdadeira besta-quadrada descompensada. Ou, pronto, um indivíduo que às vezes precisa de um recado e que lhe digam.
  «Vou esquecer que disseste essa asneira, porque toda a gente tem direito a gastar créditos no banco de idiotices.»
No campo do amor e dos afectos, esta escala de comportamentos é ainda mais flagrante. Eu tento sempre não fazer grandes juízos de valor sobre a vida dos outros. O que é certo ou faz sentido para mim pode ser errado ou absurdo para muita gente. Mas há coisas mais difíceis de entender do que outras. Quando chegarem ao fim destas linhas, podem sempre dizer que a besta-quadrada sou eu, e que gastei uma data de créditos de uma vez. Vem isto a propósito de uma tendência de que uma amiga psicóloga me deu conta há dias. Cada vez lhe chegam mais pacientes ao consultório a dizer que o marido, namorado, mulher ou namorada lhes pedem a palavra-chave do e-mail ou da conta de Facebook para poderem consultar a bel-prazer. Assim como o telemóvel, para verem as mensagens e as chamadas feitas e recebidas. Alguns acham isso normal, outros ficam espantados com a recusa do parceiro. E desde quando é que um disparate de meia dúzia de controladores se torna uma tendência preocupante? Perguntam vocês. Bom, desde que falei com outros psicólogos, que confirmam que se deparam com situações semelhantes. Sobretudo, com pacientes com menos de 25 anos, mas em alguns casos com pessoas mais velhas. O absurdo não é apenas geracional, portanto. Vejam a coisa desta maneira.
 

Da próxima vez que tiverem dúvidas sobre o vosso casamento e colocarem em causa o bom senso da outra pessoa, da próxima vez que acharem que têm um azar do caraças ao amor, e que a vossa vida sentimental dava um filme, pensem que, afinal, até estão muito bem. Não é que isto seja o derradeiro nível da descompensação de uma relação, até porque há muitas maneiras de infernizar a vida ao outro. Mas no que toca a comportamentos difíceis de perceber, até pedirem a password do e-mail do vosso marido ou da vossa mulher e acharem que isso é a coisa mais normal do mundo, há ainda um longo caminho de disparates pegados para fazer e asneiras para soltar da boca para fora. Falando diretamente para vocês, os que acham isto natural. Onde é que estavam com a cabeça quando acharam que isto é boa ideia? E vocês aí. Os outros. Onde é que vocês estavam com a cabeça quando acharam que abdicar da vossa privacidade não tem nada de mal? Esperem, não respondam. Eu sei!    «Se me amas, dás-me a password do teu e-mail . Se não dás, é porque tens segredos para mim. E não me amas.»
  É isto? Vocês acham que é uma grande prova de amor dar a entender à outra pessoa que não têm segredos para ela, certo? Errado! Todos temos segredos. É normal ter segredos! Os segredos fazem parte das nossas características, daquilo que nos torna diferentes. Além disso, é uma coisa privada, caramba! E toda a gente tem direito à privacidade. Até a pessoa que está ao vosso lado, controle freaks . Essa insegurança ou a mania de controlarem tudo e mais alguma coisa na vossa vida e na dos outros depois descamba nisto. São capazes de não entrar na casa de banho quando a outra pessoa está lá dentro, porque é preciso manter um certo glamour na relação e há coisas que se devem manter na esfera íntima. Mas ir ao e-mail ou Facebook do outro, ou pegar no telemóvel e espiolhar a caixa de mensagens, mesmo com autorização do próprio, isso já está bem. A sério: mais preocupante do que esta perversão é o facto assustador de não acharem que isto é perverso.

(08/05/2013)
Joaquim Rodrigues