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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

"EU"




Arde-me este ardor tamanho
Que me inflama tão profundo
Pois o amor que te tenho
É do tamanho do mundo.
(J.R)

"Evie"

                                                                  Joaquim Rodrigues

"Longe de ti"



 Ele partiu para longe em viagem de trabalho e deixou para trás uma dúvida entre eles. Telefona-lhe à noite de lá, do hotel.
- Como estás? – Pergunta-lhe.
- Estou bem, - Responde ela, estou em casa, e a viagem, está a correr b...em?
A sua voz simula uma alegria que não sente, pois, embora feliz por o ouvir, já tem saudades dele.
- Está tudo a correr bem, diz ele, mas tenho saudades tuas.
- Eu também, ouve-a dizer com palavras sumidas, abafadas pela voz embargada por uma inquietação.
Faz-se um silêncio, sentido na linha. Ele muda de mão o telemóvel, volta-se na cadeira. Está sentado no bar do hotel, que dá para o átrio. Os seus olhos registam de relance a confusão da entrada de um grupo de turistas barulhentos que vêm a arrastar as malas e se dirigem ao balcão da recepção. Volta-se de novo para a frente, onde uma televisão por cima do bar está a dar notícias de um acontecimento actual que prende a atenção do mundo.
 

                                                                 Joaquim Rodrigues
Depois ela começa a falar das suas preocupações pessoais, que gosta de desabafar com ele, de lhe pedir uma opinião, um conselho. Ele levanta-se e atravessa o átrio a ouvi-la, passa pela porta de entrada e sai para o exterior, onde nota a queda abrupta da temperatura. Lá fora faz frio negativo, a que ele se sacrifica para poder fumar um cigarro enquanto fala ao telefone.
Dali a pouco, ela esgota o assunto, cala-se. Quando ele estava por perto, ela andava perdida numa angústia, dividida entre o amor que lhe tinha e as dificuldades que enfrentavam. A vida corria mais depressa que eles, ultrapassara-os, impedindo-os de serem felizes sem obstáculos, mas, assim que ele lhe anuncia que partia, sentiu uma imensa falta dele.
- Tens mesmo de ir? – Perguntou-lhe.
- Tenho, confirmou, terminante.
- Quando eu regressar, diz-lhe ele agora ao telefone, vamos fazer tudo diferente.
- Vamos, concorda ela.
- Vamos fazer com que a nossa vida resulte.
- Sim, é isso que eu quero.
- Tens a certeza?
- Tenho, garante-lhe ela, agora tenho.
Ele diz que a ama, ela responde-lhe o mesmo, desligam. Antes, os problemas pareciam-lhes demasiado difíceis, mas hoje à noite, separados por milhares de quilómetros, percebem ambos que não podem viver afastados, que precisam um do outro e que não há problema, por maior que seja, que vá impedi-los de ficarem juntos.
 

(30/11/2014)
Joaquim Rodrigues