Joaquim Rodrigues
Nunca senti vergonha de amar alguém, os sentimentos que
eu sempre expus, foram sempre verdadeiros, naturais e justos. Todos nós na
nossa vida amamos sempre alguém, mas como tudo na vida acaba?
Acaba porque talvez seja um amor daqueles amores
descartáveis, talvez seja porque como todos nós estamos marchando em bando para
esse precipício sem fundo, que é transformar o afecto em satisfação do ego.
E lá vamos nós, galopando, sedentos e tropeçantes, lá
vamos nós, reduzindo o amor à citação da frase bonita nas redes sociais, lá
vamos nós, reduzindo o amor a uma selfs bonita, mesmo distante, superficial e
irreal.
Todos nós fazemos promessas que nunca vamos cumprir!
Damos a mão ao desconhecido jurando ser um velho amigo, esquecemos, no entanto,
das lacunas individuais do outro. Esquecemos das rachaduras que há, no eu, que
se transporta para você e para os nós, fingimos que o outro não está ali,
porque o importante é a nossa projecção ficar intacta, no nosso ego, e se
prejudicamos o outro, passa a ser um problema dele, desde que estejamos bem
connosco mesmo.
Ai! …O amor dos sonhos. O amor desenhado e pré concebido.
O amor e seu passo em falso, o amor do sorriso aberto no canto da boca, fazendo
uma fenda, tudo isso é inabalável até o primeiro estalo, até o mirado no tecto
de olhar triste, até o desmoronamento até virarmos ameaça, é ai que a gente
pula do barco antes que este se afunde, não existe bote preferencial, é cada um
por si, e Deus por todos.
É aí que deixa de haver marinheiro, quem mais acreditou
que se lasquem, a falácia não se sustenta, o amor coisa nenhuma, e sim vaidade,
o amor coisa nenhuma, e sim um passatempo, o amor coisa nenhuma, e sim, uma
droga alucinogénia da sua própria e única felicidade, e assim acaba o efeito, a
ressaca, acaba a droga da imaginação do amor, o amor? Vamos é negociar como o
fazem os traficantes.
O amor entorpecente, com mais ressaca, com mais vício,
até ficarmos todos irreconhecíveis, revirando qualquer lixo para uma refeição
saudável, somos óptimos teóricos, mas não somos pragmáticos, tentamos ensinar é
ao outro aquilo que que não sabemos, e muitas das vezes a quem mais sabe do que
nós sabemos. Somos Ph.D. em teorização socrática do amor, mas desarmamos logo
tudo na primeira questão que aparece.
Culpamos sempre Deus, por tudo que fazemos, culpamos
nosso modelo económico, culpamos a sociedade, e esquecemos que a sociedade
somos nós mesmo.
Suplicamos, mais amor, “por favor”, mas não temos nada a
oferecer, a não ser uma noite vazia, uma estação do ano, uma garrafa de vinho
barato.
Se o outro não está mais para servir a bomba de
endorfina, descartamo-nos dele. Fazemos dos nossos parceiros traficantes do
bem-estar, afinal, para que serve um garçom com a bandeja sem nada, vazia?
Vamos é chamar outro, e outro, e outro, até encontrar
quem nos sirva, morrer pobre não está no nosso sonho, não vamos é fechar o bar,
sem encontrar nada, e acabar caídos na calçada praguejando Deus ou a pouca
sorte ao infinito, só porque não somos capaz de reconhecer quando erramos.
É verdade que já estamos em outros tempos, que a idade já
não nos ajuda a convencer ninguém, mas deixar de tentar não se ganha nada.
Também é verdade que quase ninguém leva a sério a
promessa, (de que nos vamos amar até que a morte nos separe?), e talvez seja
mais saudável assim.
As relações acabam, a vida é um rio com várias fluentes,
que nem sempre corre para o mesmo lado, tem sempre quem mude o seu trajecto, o
trajecto muda, mas o rio segue a sua viagem, o problema é quando achamos que no
mundo, a definição do amor ideal é só para satisfazer nossos desejos, e viver
nossos sonhos, o problema é quando perdemos a noção do sagrado, mentimos com
todos os dentes que temos na boca, e conseguimos convencer o mundo, (só o mundo
que nos é igual pois é claro), e compramos todo o tempo do profano.
E assim, as juras dão lugar ao silêncio, e ao sentimento
não correspondido em uma via de mão única, basta rasgar umas fotos do outro,
virar as costas ao outro, que o outro logo deixa de existir.
E vamos repetindo sempre os mesmos erros, e vamos
seguindo todos, nessa marcha fúnebre, que é a dor do amor morrido, podemos
saber que não nos fizeram juras eternas, podemos saber que ninguém pode
prometer nada, mas quem vive com o amor, acredita que fosse verdade, mas nada
foi feito para durar.
Mas nunca podemos é, sentir vergonha de amar, a vida é
constituída com amor, sem amor não existe vida, o amor-próprio, e o amor ao
próximo também.
(21/08/2017)
Joaquim Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário