Joaquim Rodrigues
Um dia os dois combinaram fazer uma história de Amor, eles estavam decididos, nada os iria conseguir impedir. Seria uma história com um destino feliz onde não seria permitido algum caminho difícil, nem estradas com atalhos. Eles seriam assim duas pessoas cheias de esperança, de amor, e paciência.
Os dois foram coleccionando todos os detalhes juntos, todos
os sonhos que tinham, e só compreende isso quem tem alguém a seu lado sonhando
o mesmo sonho. Queriam pertencer um ao outro, e sobre isso, estavam decididos a
tudo, cada dia que passava, a solidão diminuía e o desejo aumentava, e nada os
fazia parar tudo estava mais perto do início do que do fim.
Ele hoje vê a tarde terminar, o Céu abre-se sobre a
cidade e um Sol frágil irrompe por entre as nuvens douradas que se dispersam
lentamente a favor de um vento suave. Observa a noite a descer pelos prédios,
as sombras que crescem, pesadas, os candeeiros que se acendem, repara no
movimento, nos passos abafados de transeuntes ensimesmados, nota o ambiente
soturno que o rodeia, enquanto se lembra dela, como fosse verdade estar ali à
sua espera numa esquina de uma rua. Imagina que ela vai ter com ele ali, que
vai ao seu encontro, vai dizer-lhe que não o quer mais, que tem razões mais que
suficientes para o fazer, como acredita no amor imagina que ela talvez leve com
ela uma lágrima fácil, um embaraço que a deixe contristada. Imagina-a a saiu de
casa, a descer a rua, parar a meio para respirar fundo, e ganhar coragem, mas
logo retomar o caminho decidida.
Ele vai permanecendo ali encostado ao carro a pensar
nela, consciente de que talvez a vai perder, treme só em imaginar, mas pensa
que assim será o que tem de ser feito, quando o amor acaba. Não é a primeira
vez que o abandona e não é a primeira vez que ele não desiste dela.
O que ela deseja não é claro para ele, existem muitas
coisas mal explicadas que ele nunca entendeu e nunca soube a convencer do erro e
desejava tanto entender. Ela quer amor, diz, sentir-se feliz, e ele não tem
tudo o que a faz feliz. Já antes o apagou da sua cabeça, da sua vida, como
nunca tivesse dependido do seu ombro, do seu abraço. E no entanto ele lembra-se
que voltou sempre que precisou dele.
Ele ama-a mas não a entende. Ela vai e vem ao sabor de
sentimentos insondáveis, de humores variáveis, de fantasias inconstantes. De repente
passa pela cabeça dele que assim um dia acabarão definitivamente separados. Um dia,
calcula, ela acabará sozinha.
Ela gosta dele, houve alturas em que necessitou muito do
seu apoio, mas, na realidade, em toda a sua vida, nunca conseguiu ser feliz com
ninguém. Parece desdenhar quem a ama. Usa e descarta. Parece que persegue uma
quimera de amor, e ele nada disso alguma vez percebeu. Hoje é o dia certo para
se imaginar como seria.
Ela chega ao pé dele já noite se instalou, cumprimenta-o
com um beijo no rosto, fria e distante. Conversam, sente que é altura de se
separarem, e diz-lhe.
- É isso que tu queres?
- Pergunta ele.
- É, faz que sim
com a cabeça.
Ele encolhe os ombros e diz.
- Está bem.
Ela incomodada com a sua reacção, pergunta-lhe.
- Não ficas
chateado comigo?
- Não, responde.
- Muito bem,
afirma, então, vamos falando.
- Sim, claro,
concorda ele.
Despedem-se, ele entra no carro, ela afasta-se, subindo a
rua. Vai irritada porque ele não se importou. Ele importou-se, mas está farto
dos seus caprichos de menina mimada que não sabe o que quer. Para ele, o fim é
quase um alívio. Para ela é um choque. Desta vez ele não fará nada para a
convencer a mudar de ideias. Desta vez ela percebe que vai mesmo perde-lo, mas,
como é orgulhosa, não será capaz de voltar com a palavra atrás. Sentem-se ambos
mal, miseráveis, e, no entanto, já não há nada a fazer, o seu amor está
condenado, ou não?
(18/05/2017)
Joaquim Rodrigues
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