Joaquim Rodrigues
IV
REJEIÇÕES
Hoje voltei a estar longe de ti meu amor, que triste, pois já estou sentindo todas as saudades que antigamente senti, desejando novamente o teu abraço apertado. Como hoje me faria tão bem um abraço teu assim, apertado.
Hoje voltamos ao início, mas desta vez tenho lembranças
reais, eu lembro de tudo teu, da euforia do nosso primeiro olhar, ao sabor do
nosso primeiro beijo. Só uma coisa está a ser muito difícil perceber, é que tu
não ficaste mais aqui a meu lado.
Como era bom sentir-te em mim, como eu era feliz,
confesso, soubeste-me a pouco, lembro-me bem, teria sido muito mais fácil
ter-me deixado levar, tão mais heróico se eu tivesse agarrado aquela íntima
oportunidade para dessa vez ser diferente.
Sabes amor, já sei que ao contrário do que dizem, ninguém
fica mais forte a cada desilusão, pelo contrário, ficamos todos mais fracos,
mais cobardes e cada vez se torna mais difícil correr o risco de nos
apaixonarmos e permitirmo-nos ser felizes nem que seja somente por um momento.
Ganhamos medo de querer, a dúvida passa, a insegurança instala-se, e apodera-se
de nós. Talvez tenha sido tudo isso que aconteceu, talvez sejamos cúmplices do
que a gente não quer se culpar. Desculpa por não ter percebido que dessa vez
era mesmo diferente, mas tornei-me um cobarde como tantos que por aí andam, e
por momentos também eu desisti de amar talvez.
Todos nós temos que saber rejeitar com naturalidade,
todos nós, em determinados momentos da nossa vida, rejeitamos e somos
rejeitados. Isso acontece porque temos poder de escolha, e essa é a nossa maior
liberdade, porque ninguém perde o que tem, se alguém se afasta da nossa vida,
ou não quer participar dela, você logo percebe isso.
Quando uma pessoa te rejeita, isso não significa que tu
és uma pessoa má, ou que tens menos valor que outros, significa apenas que a
outra pessoa não está sintonizada com o teu desejo naquele momento, por isso
não é motivo para ter vergonha, depressão, ou sentimento com menos valia, pelo
contrário, se alguém é rejeitado significa que possui uma capacidade para se
envolver afectivamente. A rejeição faz parte das experiências que se tem na
vida.
Na verdade ninguém gosta de ser rejeitado, sentimo-nos
mal, sentimo-nos feridos na nossa auto-estima, mas não podemos ficar parados,
temos de levantar a cabeça e vamos em frente.
O mundo não se reduz a alguém, ou a um grupo de pessoas,
sua vida será tanto mais ampla quanto for seu olhar sobre o horizonte. Se o
indivíduo não se deixar aprisionar pela rejeição, encontrará outras
oportunidades para viver novas experiências, que lhe trarão momentos mais
felizes do que poderia imaginar.
Já me chamaram de louco só porque eu amava alguém como eu
amo, tudo bem, sou louco, só por amar alguém que não me ama. Eu sei que as
lagrimas que rolam dos meus olhos levam com elas, o meu amor não correspondido,
e que o sorriso dos meus lábios é só a certeza de que eu te amo, e te desejo
toda felicidade do mundo.
Aprendi que existem horas que não precisamos de amor nem
precisamos de paixão, e que existem dias que não é na boca que queremos beijos,
nem um encontro de dois corpos nus na cama, existem é momentos que precisamos
de uma mão amiga no ombro, de um abraço apertado só isso nada mais, para não
nos sentir rejeitados, existe é, sempre alguém que nos promete muito, a gente
acredita, se entrega todo, mas se tudo isso for mentira, nos sentimos muito
mal.
Sabemos que Bom, bom era estar os dois ali juntinhos sem
falar. Existem são momentos que quando estamos para chorar, o que desejamos
mais, é de uma presença amiga que nos saiba ouvir paciente, que não nos obrigue
a nada, que brinque connosco e nos faça sorrir. Alguém que se ri das nossas
piadas mesmo que elas não tenha graça nenhuma.
A gente sabe e sente, quando amamos, e quando é amor,
porque quem ama, até consegue ver o amor, nas contas de telefone, ou até no
histórico do chat, o meu amor por você foi enorme não existe dúvida, não pode
existir duvida, eu amei sempre, e por isso eu tenho orgulho de dizer, fui feliz
porque eu amei, e amar é ser feliz.
Foi amor quando fomos passear a Campos do Jordão e tudo o
que por lá falamos e fizemos, foi amor abraçados na Aparecida, e foi sempre
amor por todo lado, por cada esquina que a gente passou, foi amor na porta do teu
prédio, foi amor na tua cama, amor em alguma festa que não lembro, mesmo que
tivesse sido regada com álcool.
Foram traços bem firmes que mostraram o amor que existiu
ali, curvas em que nossas mãos deslizaram, lábios contorcidos, quadril gingando
de um lado para o outro. Se você pudesse parar um pouco antes de fechar os
olhos, e reparar na cena, iria se encantar com a forma com que ele olhou para
você o tempo todo. Iria se encantar com os detalhes, como sempre se encantou.
Talvez você até se apaixonasse de novo, mas na verdade tudo este sonho acabou.
Não tem nada mais difícil do que chegar naquele momento em que você olha para a
pessoa que você ama e reconhece que foi amor, mas acabou.
Como acaba de repente assim, eu não sei, não sei, e
talvez nunca vá saber, vá descobrir, mas talvez você se tenha enganado, talvez
você, tenha confundido amor com outra coisa qualquer, talvez você nunca tenha
amado o suficiente e, por isso você deixou assim tudo acabar.
E como é que a gente abre a porta gentilmente, a alguém
que ama, e ajuda a carregar a mala de quem a gente amou, assim, sem remorso?
Como é que a gente deixa ir embora alguém a quem durante anos jurou amar, jurou
que sem esse amor não conseguia viver? Quando uma parte grande, uma parte forte
da gente, grita desesperadamente sobre a falta que aquela pessoa vai fazer? Não
tem como.
Só existe uma certeza, vai ter dor física, vai ser uma
confusão gritante dentro da sua cabeça e você vai resistir, a solução vai ser
tentar de novo, e de novo, sempre tentado de novo, e mais uma vez de novo
ainda. E daí a coisa desgasta, mas você não quer isso, você não quer levar tudo
às ruínas, então como é que se faz com a dor? Não se faz nada, a gente aceita
só, simplesmente.
Chegamos a um ponto, um determinado ponto, lá mais para a
frente, que você vai se acostumar. Não vai ser já, não vai ser agora, não vai
ser numa manhã ou numa tarde, vai ser quando a ficha já tiver caído umas cem
vezes, e a ideia tiver martelado a sua cabeça. Sei muito bem como é isto,
porque eu já passei por isto, já tive que ajudar na mudança de um amor que eu
achava que ainda morava aqui. Mas, se te consola, te digo uma coisa, aprender a
deixar ir embora foi uma das coisas que mais me ajudou a tirar um peso das
costas.
Deixar quem a gente ama ir embora é um ato de coragem. É
reconhecer a história que aconteceu, sem tirar nenhuma importância dela, e
entender o que é melhor para os dois. É preservar o que houve de bom e abraçar
a memória daquilo, como um passado gostoso que você viveu, e vamos lá, bola
para frente.
Deixar alguém ir embora quando não dá mais é perceber que
nem só de amor o amor vive, engraçado pensar nesta frase, mas é bem isso mesmo,
nem só de amor a gente vive, talvez você me entenda, talvez vá entender em
breve, o que importa é que ele fez casa, e se eu bem entendo de algo, é que eu
sei que amor é abrigo, quem tiver que ir, vai. O tempo ajuda a lidar com isso,
e se tiver que voltar, bem, o tempo cuida disso também, a mim só me resta dizer
o seguinte, apesar de nunca você ter confiado no meu amor que é enorme, te
desejo para o teu futuro, as maiores felicidades do mundo.
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