- “O que pode levar uma mulher bonita a amar um homem feio?”, Pergunta-se ele, obcecado por esta perplexidade, sempre que a vê entrar no seu restaurante.
Ela costuma vir almoçar com os colegas de trabalho e, se não aparece um dia, ele fica sorumbático e preocupado. Não sabe nada dela, nada mais do que o seu nome e que trabalha ali perto, mas por ela, vai para a cozinha e compraz-se a preparar pessoalmente as refeições que lhe serve. Ela gosta da atenção especial que ele lhe dá, embora não veja nesses gestos mais do que a atitude magnânima de quem quer servir bem. Tanta simpatia não passa despercebida aos colegas e, para a espicaçar, dizem que só vão ao restaurante se ela for, porque assim são servidos como Reis. Dizem que o dono do restaurante está apaixonado por ela! Ri-se mas não os leva a sério.
Hoje, vai ao restaurante só com uma amiga que veio para almoçarem e porem a conversa em dia. Ele aproxima-se da mesa, (a felicidade em pessoa), recomenda-lhes um prato especial que se oferece para preparar exclusivamente para as duas. Elas aceitam, e lá vai ele para o forno cozinhar cheio de amor. A amiga, espantada, abre muito os olhos e exclama.
- O homem está apaixonado por ti!
- Está nada, és tonta, ele é sempre assim, réplica, desvalorizando o espanto da amiga.
- Ah, diz esta, é sempre assim?
Joaquim Rodrigues
Ele pensa que não está à altura da sua cliente preferida, que é tão bonita que pode ter quem quiser e, portanto, nunca reparará nele. Está imerso nestas reflexões enquanto os seus empregados se divertem a comentar em segredo a paixão do patrão. Leva a travessa para a mesa e fica atrás do balcão a observar a reacção delas, que, evidentemente, é de grande satisfação, pois é realmente bom cozinheiro. Quase no final da refeição, a amiga declara que tem um compromisso urgente e precisa de ir embora.
- Depois contas-me como correu com o chefe, diz, com uma piscadela de olho cúmplice.
Ela abana a cabeça, numa leve censura. E ele vendo-a sozinha, aproveita a oportunidade e traz-lhe a sua melhor sobremesa, atreve-se a sentar-se à mesa, consegue arrancar-lhe uma gargalhada. E ela pensa que, pelo menos, já a conquistou pela boa disposição e pela comida.
Depois desse dia, arranja maneira de aparecer muitas vezes sozinha, e não só para almoçar, pois até já jantaram os dois e ficaram a conversar muito depois de o restaurante fechar. E ele descobriu que afinal não é uma conquista impossível. O que não sabe é que ela não é tão bonita como a vê, nem ele tão desinteressante como se imagina.
(15/06/2015)
Joaquim Rodrigues
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