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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

"O Casamento"



Já passaram quinze anos, que casaram (oficialmente) mas passados todos estes anos, eles sempre se casavam um com o outro, voluntária ou involuntariamente, várias vezes por dia. Esta semana, quando os dois voltavam ao fim da tarde a casa de carro do passeio do costume há beira-mar, ela penteava-se e deu por uns cabelos soltos, entregou-os a ele para os deitar pela janela do carro.
 - Tive ciúmes que alguém pudesse apanhar os teus lindos cabelos, e dei-lhes um beijinho e atirei-os ao vento, disse-lhe.
- Agora tenho eu ciúmes que alguém apanhe o cabelo com os beijinhos teus.
Casaram um com o outro nesse momento. Já tinham casado cinco vezes entre o parque e a praia. Casar é o que acontece quando duas pessoas descobrem que, por estarem a fazer ou terem feito uma coisa grande ou pequena, e se sentem que são as duas únicas pessoas no mundo. Todas as outras pessoas não podem fazer parte daquele prazer. Aquele prazer só é possível para duas pessoas concretamente, para ele e para ela.

(Joaquim Rodrigues)
À volta deles iam se casando muitas outras pessoas, casavam-se mais por eles estarem de fora, Juntamente com todas as outras. Às vezes somos nós os espectadores. Vemos outras pessoas a casarem-se.
 Pararam o carro com o mar em frente, e viram um homem a rir-se, leva uma mulher a rir-se nos braços pelo mar adentro e não a deixa cair até ela pedir. Há cuidado, medo de desiludir, proteção, ternura e vontade de agradar.
Depressa eles perceberam que estão a rir-se juntos, de uma coisa a que só eles acham graça, que é rirem-se os dois de uma mesma coisa.
  - Casas comigo hoje, meu amor?
 - Caso hoje, e todas as vezes que tu quiseres, Vez após vez.
E abraçaram-se mesmo ali, beijaram-se com todo o carinho, e voltaram a chamar o mundo para eles. Voltaram a casar.

(03/11/2013)
Joaquim Rodrigues

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