Conhecem-se por acaso, numa discoteca. Conversam junto ao bar enquanto tomam uma bebida, sentem-se atraídos um pelo outro. De manhã, abrem os olhos, riem-se e repetem tudo, mas com menor urgência do que na noite anterior.
Nos meses seguintes, vão a festas, saltam de discoteca em discoteca, correm para o avião, fazem fins-de-semana compridos em Barcelona, fecham-se em quartos de hotel durante o dia e percorrem a noite a um ritmo alucinante. Têm a sensação de que o mundo gira em redor deles, de que a felicidade lhes pertence e nada poderá alterar isso.
Contudo, a primeira discussão deita-os abaixo, põe a nu a fragilidade da relação. Uma noite, ele conversa alguns minutos com uma mulher e ela vê-o a fazer-lhe uma carícia, a trocar um sorriso com a desconhecida, num momento de excessiva intimidade. Nessa noite discutem, separam-se. Passa um mês. Encontram-se na discoteca. Ele está com a namorada nova, ela com o namorado recente. Trocam algumas palavras e afastam-se. No dia seguinte, porém, ele envia-lhe uma mensagem para o telemóvel, ela responde-lhe.
Passam a noite juntos, têm-se como amantes desesperados. Ele pergunta-lhe o que a levou a afastar-se.
(Joaquim Rodrigues) |
- O que é o suficiente para ti? Se te amava como nunca amei outra mulher.
- Ah! Solta uma pequena gargalhada, foi por isso que me ignoraste quando te apareceu a outra.
- Disparate, defende-se ele, era só uma amiga.
- Sabes, eu precisava que fosse só eu, precisava que ignorasses todas as outras.
Ele sai da cama, começa a vestir-se.
- Quer dizer que não poderia voltar a falar com outra mulher?
- Isso mesmo, diz ela com determinação, era assim antes, só nós dois.
Ele enfia umas calças.
- Mas isso não faz sentido, diz, não podemos viver isolados do mundo.
- Para mim faz muito sentido, afirma, também a vestir-se.
- Podemos voltar a ser só os dois, ouve-se a dizer, resignado, embora não acredite realmente que tal seja possível.
- Não, replica ela, ajeitando o vestido, já não, quebraste a magia. E, dito isto, agarra na carteira e vai-se embora.
Ele pensa que ela é doida, todavia não consegue esquecê-la, está obcecado por ela, não é capaz de manter outras relações. Telefona-lhe, mas o seu número está desativado, procura-a em casa, mas ela mudou-se. Desapareceu, simplesmente, nunca mais a vê, e, para todo o sempre, será como uma louca recordação, ou talvez um sonho que nunca aconteceu.
(06/09/2013)
Joaquim Rodrigues
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