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domingo, 30 de junho de 2013

"O Vestido Mágico"


De cabelo liso, esvoaçante, o nariz arrebitado e as pernas bronzeadas abaixo da saia, que lhe dá um pouco acima dos joelhos, é a sua imagem, que vê de relance, refletida no vidro de uma montra, ao passar por uma loja. Nota, um pouco irritada, aquele pneuzinho na base da barriga, que tanto a aflige quando se vê ao espelho antes do banho e que parece ser uma guerra perdida. Suspira, o que ela daria para recuperar a barriga lisa dos seus vintes anos. Detém-se frente à montra seguinte, observando-se atentamente, mais curiosa do que vaidosa, e conclui que poderia estar melhor. Enfim, sempre são trinta e nove anos, não se fazem milagres, pensa, mas não está satisfeita com o que vê.
No entanto, pergunta-se, o que lhe interessa, se está sozinha há tanto tempo e já não acredita que volte a apaixonar-se um dia. Teve um casamento tardio e desastroso, do qual só se salvou o filho adorado. De resto, não lhe sobram recordações capazes de a resgatar da memória amarga dessa época.
Um aceno insistente no interior da loja obriga-a a desfocar os olhos do vidro para se concentrar no homem sorridente que lhe faz sinal. Espantada, aponta para si própria com uma expressão de dúvida, como que perguntando se é para ela. O desconhecido faz que sim com a cabeça e convida-a a entrar. Aproxima-se da porta e espreita para dentro, aflorando um sorriso tímido.

(Joaquim Rodrigues)
  - Entre, entre, diz o homem.
  - Mas olhe que eu não quero comprar nada, replica ela.
  - Não faz mal, não precisa de pagar para ver.
Ela faz uma expressão engraçada, divertida com a audácia do homem, encolhe os ombros, entra. É uma loja de roupa de marca, um espaço encantador, repleto de peças bonitas. O homem revela-se um mestre de vendas, elogia-a educadamente, com tato. Ela dá consigo a pensar que já não compra nada bonito para si faz muito tempo.
Sai da loja com um saco na mão, sorridente, satisfeita. Comprou um vestido. O homem disse-lhe que era um vestido mágico, pois fazia maravilhas, e, de facto, sente-se bem mais animada e até decide ir ao cabeleireiro em vez de seguir diretamente para casa. À saída, pensa mais uma vez que não lhe apetece ir para casa, que é um desperdício, tendo em conta o corte de cabelo, as unhas arranjadas, o vestido novo.
Nem de propósito, toca o telemóvel, atende, é aquele amigo que já a fez sonhar, mas que nunca passou disso. Contudo, hoje não podia estar melhor preparada, e, quando ele a convida para jantar, ela aceita. E, então sim, põe-se a caminho de casa, para vestir o seu vestido mágico e, bem, depois se verá se realmente faz maravilhas.

(30/06/2013)
Joaquim Rodrigues

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