Powered By Blogger

sexta-feira, 21 de junho de 2013

"Como o Mundo se Partisse"


Ela vai a descer a rua com sacos na mão. Vem das compras, roupa para o Inverno, que está a chegar. Um sol inesperado rompe a manhã de chumbo e traz-lhe algum calor. Por debaixo das árvores, um tapete amarelo de folhas secas esvoaça a cada passo dela. Sente-se bem, tranquila, embora haja uma certa melancolia a pairar sobre a sua cabeça. Mas tem esperança no dia. Ao passar por um café, um homem encostado à porta com um cigarro na mão atira-lhe um elogio desajeitado, simpático mas brejeiro. Finge que não o ouve, sorri para dentro, desconcertada, segue o seu caminho. Vira a esquina, entra no seu bairro, decide parar na pastelaria e tomar um café.
Atrás do balcão, o empregado de sempre troca piadas com ela enquanto toma uma bica em pé. O telemóvel toca, leva a mão ao bolso do casaco, vê o nome dele no visor e atende, sem reparar que sorri.
(Joaquim Rodrigues)
Ele vai sozinho no carro com Norah Jones a cantar ‘Cold, Cold Heart’, a pensar nela, que não a vê há vários dias, e decide telefonar-lhe sem ponderar, sem querer saber dos prós e dos contras. Aconteceram entre eles tantas coisas em tão pouco tempo, que parece que viveram uma vida em poucos meses. Antes disso, parecia-lhes que o mundo se poderia partir ao meio e nem assim se separariam. Mas descobriram com espanto que a fragilidade dos sentimentos pode estragar tudo num ápice. E descobriram que quanto mais queriam ficar juntos, mais erros cometiam, mais mal faziam um ao outro, mais se afastavam. Quando se separaram foi definitivo. Ela disse-lhe isso, ele decidiu isso. Mas agora ele liga-lhe num impulso.
- Olá, que andas a fazer? Diz.
Ela responde.
- Olá, ando na minha vidinha, a fazer compras e assim.
- Onde estás? Pergunta ele.
- No café, ao pé de casa, e tu?
- Estou perto, diz ele, apeteceu-me ligar-te.
- Fizeste bem, queres passar por aqui? Convida-o, simplesmente, sem pensar em nada.
Em cinco minutos, ele chega, sai do carro. Ela sai do café, vai ao seu encontro. Sorriem um para o outro, não precisam de dizer as saudades que tiveram, o vazio que sentiram. Abraçam-se, beijam-se, e, nesse momento, é como se o mundo se pudesse partir ao meio que nem assim os separaria.

(21/06/2013)
Joaquim Rodrigues

Nenhum comentário: