Ela sai da loja meio atrapalhada com três sacos nas mãos. Nisto, o salto fino do sapato fica preso numa reentrância da calçada e, num momento, vai a andar normalmente e, no outro, está estendida no chão com os sacos espalhados à sua volta. Uma mão solícita segura-lhe o braço, ajuda-a a levantar-se. Ela agradece, ele recolhe os sacos.
- Você está bem? Pergunta-lhe.
Responde-lhe que sim, mais embaraçada do que magoada.
- Tem as mãos feridas, nota ele.
- Não é nada, diz ela.
No entanto, convence-a a entrar num café e fica à espera que vá lavar as mãos. À saída, vão na mesma direção e ele acompanha-a. Começa a estar atrasado, mas acha-a bonita e acaba por convidá-la para jantar. Só que não consegue mais do que uma amável recusa.
Passa uma semana. Ao sair de casa de manhã, ela enfia distraidamente a mão no bolso do casaco e descobre um cartão-de-visita. Não reconhece o nome que tem inscrito nem se recorda de o ter guardado. Vai trabalhar intrigada com aquele cartão. Finalmente, derrotada, liga para o número e uma voz pergunta-lhe.
- Como estão suas mãos?
Ela cerra os olhos, já arrependida de ter ligado.
- Como é que o seu cartão estava no meu casaco?
- Fui eu, confesso, meti-o sem você reparar, tinha esperança que me ligasse.
- Só liguei porque não sabia de quem era, replica ela, um pouco brusca.
Despede-se de forma atabalhoada, desliga. Ainda assim, ele não desanima e envia-lhe uma mensagem a convidá-la novamente para jantar. Ela responde.
- Não posso!
- Então amanhã, ou depois, ou depois, ou depois.
Normalmente ela diria que não, mas ele insiste tanto que pensa.
“- Porque não?
E, depois de uma longa negociação por mensagem, concorda em almoçar.
- É sempre assim tão persistente? Pergunta-lhe.
Ele espreita por cima do menu, sorri, faz que sim com a cabeça.
- E agora, qual é a sua ideia?
A pergunta surpreende-o, mas encolhe os ombros.
- Agora, diz, almoçamos, depois logo vemos onde isto nos leva.
- Isto? Repete ela, hum, e baixa os olhos para o seu menu a pensar que ele é um convencido. No entanto, sente-se desafiada, e uma voz no canto do seu cérebro segreda-lhe
" - Pois, vamos ver onde isto nos leva!
Passou um ano. Ele costuma dizer a brincar que ela tem uma certa queda por si, ao que ela responde.
- Tenho outras formas de chamar a atenção e não costumo atirar-me assim de cabeça, mas, sim, que ele é irresistível.
Ainda se riem da forma como se conheceram. Um dia, dizem.
"- haverão de contar esta história aos seus filhos.
(05/05/2013)
Joaquim Rodrgues
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