- Tens que começar a sair mais mãe.
- Não me apetece sair, responde-lhe, antes ia a todo o lado, mas era com o teu pai.
- Quem me dera ter um casamento como o vosso, desabafa a filha, a pensar no namorado que deixou há pouco.
- Ah, não julgues que foram só alegrias, diz ela. Antes de nos casarmos, estivemos dois anos sem nos vermos.
- A sério? Não sabia isso, diz a filha, espantada.
Ele era um jovem co-piloto no início da carreira e passava muito tempo a voar. Estavam apaixonados e já falavam em casamento, mas ela quase não o via, e acabaram por se separar. Dois anos mais tarde, ela está noiva e vai casar dali a uma semana. Quando se encontram num bar. Ela tem o anel de noivado no dedo e faz a despedida de solteira com um grupo de amigas. Os seus olhos cruzam-se e, nesse preciso momento, ela sente um impacto tremendo, como se o passado nunca tivesse passado realmente e ele estivesse ali porque lhe pertence, porque pertencem naturalmente um ao outro. Não consegue vê-lo de outra maneira. Ele aproxima-se, ela tem uns escassos segundos para se recompor, e ficam por uns momentos a conversar. Conta-lhe
- Vou-me casar, estou aqui nesta festinha com minhas amigas como despedida de solteira.
Nessa noite ela não dorme sossegada, não consegue conciliar o sono, enfim, não dorme de todo. De manhã batem à porta, ela vai abrir e ali está ele, à sua frente.
- Que fazes aqui? Pergunta-lhe, estupefacta.
- Não foi fácil dar contigo, afirma ele.
- Mudei-me há dois anos.
- Eu sei, também te procurei nessa altura e tinhas desaparecido.
- Eu nunca soube que me procuraras, pensei que tinhas desistido de mim, simplesmente.
- Nunca desisti de ti, diz ele, achei que tinha sido o contrário, que não me querias ver, e daí a tua mudança de casa.
Ela não sabe o que pensar, não sabe o que dizer nem o que fazer. Ele está ali, e ela vai casar-se com outro. Ele convida-a para almoçar e, sem que o tivessem planeado, passam o dia juntos, e os seguintes.
- De modo que casei na data prevista, mas com o teu pai, conta à filha. Foi terrível o que fiz ao outro, diz, parecendo ainda embaraçada com a situação, mas era o homem da minha vida e não podia desistir dele, nunca desisti, na realidade, só pensava que não o podia ter.
A filha, incrédula, emocionada, pensa na história da mãe, no namorado, na asneira que foi deixá-lo, e decide que tem de fazer algo rapidamente para não o perder de vez.
(12/05/2013)
Joaquim Rodrigues
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