Estão os dois sentados no café restaurante onde tinham combinado ir almoçar juntos, de repente já no fim do almoço ela levanta-se, pega na carteira que está na cadeira livre ao lado da mesa, deixa-a escorregar dos dedos, traída pelos nervos, abaixa-se, apanha a carteira do chão, ergue-se, dá meia-volta, afasta-se, abre a porta, e sai para a rua.
Enquanto isso, ele fica a observá-la a sair sozinha, do restaurante, a pensar! “Ali vai a mulher da minha vida”. Pondera levantar-se e ir atrás dela, mas, em vez disso, chama a empregada e pede mais um café.
Lá fora, ela respira fundo o ar fresco da tarde que lhe bate no rosto como uma bênção. Tem as pernas a tremer e sente que não consegue andar. Não imaginou que fosse tão difícil.
Ele agora sente-se triste desanimado por toda aquela sena que nunca tinha pensado que iria acontecer, é como se sentisse colado à cadeira, concentra-se numa menina dos seus seis anos, aborrecida enquanto a mãe tagarela com uma amiga. A menina abre com os dedinhos desajeitados um pacote de açúcar, derrama o conteúdo em cima da mesa, olha para a mãe à espera que esta lhe ralhe, mas, como ela não repara na asneira, começa a juntar o açúcar num montinho. Ele sorri com a cena que o distraiu um pouco momentaneamente, mas o sorriso morre-lhe de imediato no rosto.
Ela mais segura, vai caminhando pelo passeio, entra no autocarro ali à frente, atira-se para o canto do banco, volta a cabeça para a janela. Lágrimas de frustração descem-lhe pelo rosto, a pensar que acreditou que este poderia ser o dia mais feliz da sua vida.
Entretanto ele chegando a casa, vai ao frigorífico, tira de lá uma cerveja, abre-a, dirige-se para a sala, senta-se, liga a televisão e fica a olhar absorto. Dá um gole na cerveja, coça a cabeça irritado e solta um grunhido para o ar, furioso por ela ser tão casmurra e tão, tão dramática! Ela quer casar, acha que já estão na altura de dar esse passo, argumenta que quer ter filhos e que não pode esperar muito mais. Ele ama-a, mas não quer ouvir falar de casamento e muito menos de filhos. A sua vida é demasiado boa para a complicar. Ela pensa que esse é o epílogo perfeito para ambos. Ele pensa que não está preparado.
Ele acorda-a de manhã com um beijo. Se lhe perguntassem há pouco tempo se acreditava que estaria com ela em breve, teria respondido terminantemente que não! “E impossível perdia-a há muito “. Passaram-se oito anos desde aquele dia, ela casou com outro, teve dois filhos, divorciou-se. Ele nunca se casou. Encontrou-a há uma semana numa discoteca e, desde então, ainda não se separaram. Retira uma caixinha debaixo da almofada dela, fingindo um truque de magia, e oferece-lhe.
Ela senta-se na cama, abre a caixa e vê o anel, coloca-o no dedo e diz.
- É lindo !.
- Queres casar comigo? Pergunta-lhe, esperançado.
Ela hesita antes de responder olhando para ele, muito séria.
- Quero! diz, mas vamos com calma, estamos tão bem agora, não apressemos as coisas, está bem?
(21/04/2013)
Joaquim Rodrigues
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