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terça-feira, 2 de abril de 2013

"Onde Vais Passar o Natal?"

Ali estão os dois, sentados frente a frente, separados pela distância cautelosa de uma mesa de permeio. Ele não estende o braço para agarrar a mão dela como antigamente. Ela não faz nada para o incentivar. Observam-se apenas, entrecortando o silêncio com alguns, espaçados, comentários de circunstância, como se não se conhecessem intimamente, não tivessem tido uma relação, não tivessem feito amor numa outra vida. Sentem-se dois estranhos acabados de se conhecer. Tudo o que foram juntos parece-lhes que se passou há uma eternidade. E no entanto, bastou-lhes reencontrarem-se para se reconhecerem.
Ele ainda se lembra do perfume dela, dos seus olhos; ela ainda sabe de cor todos os traços do rosto dele; ambos conhecem as particularidades um do outro: a forma como se riem, o que os faz rir, o que gostam e o que não gostam, as expressões que usam, os comentários que faziam e que tinham um significado particular, só deles. Sentem-se como desconhecidos que sabem tudo um do outro. Pediram cafés, o empregado vem com a bandeja e serve-os, com açúcar para ela, com adoçante para ele. O empregado retira-se e eles trocam os pacotinhos com um sorriso cúmplice. Baixam os olhos enquanto mexem o café, ele demora-se um pouco mais, ela observa-o atenta aos pormenores, estuda o silêncio dele, na ânsia de lhe ler os pensamentos. Ele levanta os olhos e sorri-lhe, um sorriso aberto que dissipa uma nuvem. Ela retribui-lhe um rosto iluminado. Começam a falar com a alegria de sempre, abandonando a cautela, sem darem pelo tempo que pára, uma, duas horas seguidas, evitando tocar no que os separou.


Divertem-se, entendem-se com facilidade, mas a vida não parou e já não estão no mesmo ponto em que ficaram. Separaram-se, de facto, e parece-lhes inverosímil que um dia tivessem tido a certeza inabalável de que nada os poderia afastar um do outro. E quando voltam a olhar para o relógio e regressam à terra, quando comentam.
 - Ui, é tão tarde, tenho de ir.
 - Pois, eu também.
O sorriso esbate-se nos seus lábios e ambos sentem a nostalgia de um tempo que não se repete, de um amor incondicional que ficou pelo caminho, como tantos outros amores jurados com alma e coração. Despedem-se com um abraço apertado, mas não combinam outro encontro.
 - Foi bom rever-te, diz ele.
Ela fecha os olhos um segundo, enquanto assente com a cabeça.
 - Também gostei muito, afirma.
Ele segura-lhe a mão como antigamente, sorriem, ela recua um passo, as mãos largam-se devagar, ela faz uma expressão engraçada, triste, que quer dizer é a vida, ele imita-a com um encolher de ombros exagerado, e partem, cada um para seu lado, perguntando-se se vão repetir em breve. De repente ele lembrasse vira-se rápido e pergunta.
- Onde vais passar o Natal?
- Em minha casa sozinha.
- Não vais não! Eu vou passar contigo queres?
E ela caminhando na sua direção com um sorriso triunfante responde.
- Sim, claro que quero.

(13/12/2012)
Joaquim Rodrigues:

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