Em passeio pelo jardim num domingo feliz, param frente ao lago onde dois cisnes nadam graciosamente lado a lado. Ela lembra-se de algo que leu algures e comenta.
- Sabes que os cisnes são animais que acasalam para toda vida, nunca se separam?
Ele gosta da ideia e, realmente, pensa que também são assim, que vão ficar juntos para a vida.
Ela regressa ao lago muito tempo depois, numa manhã de domingo cinzenta, e encontra o casal de cisnes partilhando com a mesma cumplicidade de sempre os bocados de pão que as crianças lhe atiram. Passaram quatro anos desde a última vez que esteve ali com ele e, vendo agora o casal de cisnes, sente uma infinita tristeza por não terem cumprido o desejo de ficarem juntos.
Acabaram separados devido a uma série de equívocos, nós pouco firmes que lhes embaçaram a vida, mas que o tempo foi desatando e hoje lhe parecem irrisórios. Ele sempre lhe disse que o tempo resolve tudo, no entanto, ela não acreditou.
Senta-se num banco à beira do caminho que contorna o lago e ali fica, hipnotizada com os cisnes, a ponderar as decisões do passado, o que fez, o que poderia ter feito. Cai uma chuva miudinha de que não se dá conta, cai uma lágrima pelo seu rosto. Há nela uma infelicidade perene que a faz pensar que ele não tinha inteira razão quando dizia que o tempo resolvia tudo, porque o tempo não lhe devolveu a alegria.
(Joaquim Rodrigues) |
Ela sente que vai adiando tudo e que, sem se dar conta, a vida vai passando. Tem dias cheios, que a absorvem e, de noite, só lhe resta energia para se deixar cair no sofá a dormitar em frente à televisão, no entanto, não consegue ultrapassar a impressão de que não está verdadeiramente a viver, mas apenas à espera de algo que lhe devolva a felicidade.
O jardim já ficou para trás quando o telemóvel vibra no bolso. Ele tira-o e lê a mensagem dela.
“Os cisnes ainda estão juntos no lago.”
Sem pensar duas vezes, vira o volante, passa por cima do traço contínuo, faz inversão de marcha e acelera sem ligar às buzinas de protesto. Não passaram nem cinco minutos desde que ela enviou a mensagem e, de repente, ali está ele, sentado ao seu lado, quatro anos depois, de olhos postos no lago, a ver os cisnes.
- Como chegaste aqui tão depressa? Pergunta-lhe, perplexa.
- Eu sou como os cisnes, também estou sempre perto de ti.
Ela sorri, aliviada.
- Deve ser destino, diz.
Ele encolhe os ombros.
- Pode ser, afirma, mas eu chamo-lhe amor.
(07/04/2013)
Joaquim Rodrigues
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