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sexta-feira, 8 de março de 2013

"UM FIM-DE-SEMANA ESTRANHO"


- O que se passa? Pergunta a amiga, estranhando-lhe o sorriso triste quando se sentam na esplanada.
 - Nada, porquê?
 - Estás um pouco aérea.
 - Aérea? Não.
 - Estás apaixonada, declara a amiga.
 - Estou agora!  Mas pergunta-se se será possível apaixonar-se num fim-de-semana. Pergunta à amiga. - Claro que sim, responde esta com convicção.
Foi com outra amiga a uma festa onde não conhecem ninguém, mas a amiga não se atrapalha e já está acompanhada. Ela, pelo contrário, é incapaz de falar com desconhecidos, de modo que fica ali aborrecida. Já bebeu dois vodkas tónicos e não está acostumada, mas vai ao bar pedir o terceiro só para estar ocupada. Encosta-se ao balcão a bebericar. Um homem à sua frente pede-lhe licença para se aproximar do bar.
 - Obrigado, diz ele, estas festas são piores que o metro em hora de ponta.
 E ela solta uma gargalhada sonora. Não sabe porquê, mas acha-lhe um graçalhão. Acorda de manhã alarmada num quarto estranho. Tem ao lado um homem adormecido que não reconhece, perscruta o próprio corpo com as mãos e descobre horrorizada que está nua, embora com a roupa interior. Esgueira-se da cama, descobre o vestido numa cadeira, agarra-o, volta-se e surpreende o desconhecido a sorrir-lhe.
 - Ias-te embora sem te despedires?
 Tapa-se com o vestido e embrulha-se numa justificação sem sentido. Ele levanta-se e ela solta um gemido involuntário ao vê-lo nu, mas fica mais tranquila quando percebe que está de boxers. Ele vai abrir a janela, desvendando uma vista deslumbrante sobre uma planície que termina no mar a quilómetros de distância.
 - Onde estamos? Pergunta-lhe, a pensar que nunca mais toca em álcool.
 Ele, espantado, responde:
 - Estamos em Leça.
 - Olha, diz, eu sei que pareço tontinha, mas não sei como vim aqui parar e não me lembro de ti, nem sei o teu nome.
 Ele vai acender um cigarro, encosta-se ao parapeito da janela a fumar, conta-lhe a noite passada.
 - E nós... Fizemos alguma coisa?
 - Não, diz ele a rir-se, foste uma desilusão.
 Fica mais aliviada, mas quer ir-se embora, só que depende daquele homem simpático e atraente que fuma à janela em boxers. Ele promete levá-la a casa, se ela ficar para o almoço. 
- E fiquei o fim-de-semana todo, conta agora à amiga.
 - Uáu! Exclama esta, e dizias tu que não se passava nada!
 Ela faz uma careta, diz.
 - Pois, foi isto.
 - E agora? Pergunta a amiga.
 - Agora, nada, encolhe os ombros, ele despediu-se de mim, disse que me ligava, mas não ligou. Nem sequer fiquei com o número dele, achei que ia ligar-me.
 - Homens, diz a amiga, são todos iguais.
 - Pode ser que ainda telefone, afirma, sonhadora.
 - Pode ser, diz a amiga, só para não a desiludir.
 - E no entanto, à noite ela recebe uma mensagem dele e o seu rosto ilumina-se com um sorriso. 

(01/03/2013)
Joaquim Rodrigues:

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