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sábado, 30 de março de 2013

"O Risco de Amar"



Ela não se queria apaixonar porque sabia que a paixão era uma armadilha, sabia que se fosse rejeitada mais tarde levaria meses, talvez anos, a esquecer. Já passara por isso e a perspetiva de repetir era perturbadora. Depois disso decidira ser livre, não se apaixonar. Tivera alguns casos esporádicos, mas não se prendera a ninguém. Mas agora voltou ao mesmo e está alarmada porque só percebeu o que lhe aconteceu demasiado tarde.
Trabalha num hotel, conheceu-o quando estava de serviço no bar. Achou-lhe graça, mas não deu importância. No entanto, ele apareceu no dia seguinte, e todos os dias dessa semana, à mesma hora. Ele viaja muito em trabalho, vem a Lisboa regularmente. Na vez seguinte deu com ela logo à chegada, no balcão da receção. O seu rosto iluminou-se quando a viu , disse.
 -  Gosto muito de a reencontrar.
E para ela naquele momento, aquela declaração, não foram indiferentes. Sorriu, e respondeu educadamente.
 - É um prazer recebê-lo novamente no hotel.
Tratou-o por senhor. Mas na verdade sentiu uma emoção que a surpreendeu. Mais tarde, ele foi ao balcão, perguntou-lhe se não iria estar de serviço no bar. Como ela dissesse que não, pediu-lhe que fosse lá ter com ele depois de sair de serviço. Ela recusou, não poderia fazê-lo. Ele coçou a cabeça, atrapalhado, mas não desistiu, convidou-a para sair. Apanhada de surpresa, ela disse que não, inventou uma desculpa. Ele disse.
 - Não faz mal, tenho a semana toda para a convencer.
Agora ela dá consigo a sofrer à espera do dia em que ele regresse ao hotel. Falam sempre ao telefone, mas receia que um dia ele mude de hotel e a esqueça. Por isso, decidiu que não podia continuar nessa angústia, e telefonou-lhe, disse-lhe que era altura de se separarem. Ele respondeu-lhe.
 -  Tenho uma semana para reconsiderar, até ao seu regresso.
Ela fraquejou na sua determinação.
 -  Está bem, uma semana, mas pediu-lhe que não telefonasse.
Os dias são lentos, a semana demora a passar. Ela está na receção e pergunta-se porque não lhe liga ele, porque não ignora o seu pedido. Sente uma tentação de lhe telefonar, mas resiste. Está apaixonada e assustada com a força desse sentimento, com o risco de ele a deixar, com a possibilidade de ele não voltar no fim da semana. Mas ele volta. Chega com um ramo de flores e declara à frente dos colegas, de uma multidão de hóspedes.
 - Não podes desistir de mim porque te amo e quero casar contigo.
Ela, emocionada, ri-se com lágrimas nos olhos. Então, diz ele.
 - Vais responder-me ou deixar-me aqui nesta expectativa?
Ela engole em seco, recompõe-se, responde-lhe sem pensar duas vezes.
 - Sim!
Ele debruça-se sobre o balcão, beija-a, e há uma salva de palmas geral na receção.

(14/06/2012)
Rodrigues Joaquim:

Um comentário:

Guacira Macedo disse...


Bom dia Joaquim...
Fiquei muito feliz ao deparar-me com teu blog outro dia...
Teus poemas/textos sempre transmitem a sensação plena dos nossos sentimentos, das nossas mais intimas verdades, daquilo que muitas vezes não sabemos descrever em escritas. É um prazer abrir o blog e perceber que sempre tem algo novo, um poema, um texto ou um vídeo.
És um homem com um dom especial e tens uma tarefa importantíssima que é nos fazer viajar através dos textos, fazer nos sentirmos parte integrantes dos mesmos.
Felicidade a ti e que Deus te ilumine sempre para que possas fazer teu blog crescer mais e mais...
Beijo
Guacira