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sexta-feira, 29 de março de 2013

"Felicidade completa"

(Felicidade)

Ela vive num apartamento demasiado grande para uma pessoa só. Aquele apartamento já foi um apartamento cheio de gente, pois foi casada e teve três filhos. Hoje por causa da felicidade que passou mais tempo arredada dela vive só. Separada dos três filhos que por conta das suas profissionalizações ou amores encontrados, vivem longe dela.
Ela ganha o suficiente para levar a vida no que mais precisa. Adora o apartamento, o refúgio que lhe dá segurança. Tem a impressão de ter tudo em excesso na vida, menos amor, evidentemente. A insegurança que sente leva-a a esmerar-se. É agressiva por ter pânico de falhar. Não sai muito e o apartamento acaba por lhe suscitar um misto de sensações, é o lugar onde se sente melhor mas também onde se sente sozinha. É o espelho da sua felicidade muito incompleta. Por vezes chega cansada, senta-se no sofá e deixa escapar um suspiro que não sabe se é de alívio se de angústia por não ter mais onde ir. O vizinho bate-lhe à porta e anuncia-lhe que vai dar uma festa nessa noite e que a quer convidar.
 - O barulho não a vai deixar dormir, diz ele.
Ela fica tão atrapalhada que recusa só para se livrar do embaraço, desculpa-se com um trabalho importante que trouxe para casa. Passa a noite acordada na cama a ouvir a música da festa, a lutar com a timidez, derrotada por ser incapaz de se levantar, arranjar-se e ir para a festa, como tanto deseja.
  "Bato à porta dele, digo que já despachei o trabalho e pronto.,diz a si própria para se convencer."
Mas continua paralisada e sabe que não vai ter coragem. Lamenta que o vizinho não a tenha insistido mais e adormece com lágrimas de frustração.
De manhã cruza-se com o vizinho, descem juntos no elevador, ele pergunta-lhe.
- Bom dia, linda vizinha! O barulho ontem há noite a incomodou muito?
- Não! - Responde ela como querendo se machucar a si própria.
- E a festa correu bem?
- Sim, sim! Muito divertida, diz ele, pena foi você não ter vindo.
Ela cora e sente-se estúpida por isso. Ele acha-a adorável. Ela acha-o perfeito com aqueles jeans, alegre, descontraído, bonito. Costuma suspirar quando pensa nele e sabe exatamente porquê.
Passa o dia bem humorada, embora se ache tonta por não ter razão para otimismos. Sempre pensou que não estava à altura dele, que é bom demais para si. No entanto, ele ficou intrigado. À noite volta a bater-lhe à porta e convida-a para jantar. Ela fica aflita, gagueja, mas ele diz com graça.
  - Não aceito outra rejeição.
Ela ri-se, desconcertada, pede tempo para se arranjar. Toca à campainha, ele abre, elogia o seu vestido, diz que está deslumbrante, leva-a para a varanda onde está posta a mesa com vela acesa, oferece-lhe um copo de vinho. Sentam-se a conversar e ela pensa, controlando uma euforia, que talvez possa alcançar finalmente a felicidade completa.

(29/03/2012)
Rodrigues Joaquim:

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