(Felicidade) |
Ela ganha o suficiente para levar a vida no que mais precisa. Adora o apartamento, o refúgio que lhe dá segurança. Tem a impressão de ter tudo em excesso na vida, menos amor, evidentemente. A insegurança que sente leva-a a esmerar-se. É agressiva por ter pânico de falhar. Não sai muito e o apartamento acaba por lhe suscitar um misto de sensações, é o lugar onde se sente melhor mas também onde se sente sozinha. É o espelho da sua felicidade muito incompleta. Por vezes chega cansada, senta-se no sofá e deixa escapar um suspiro que não sabe se é de alívio se de angústia por não ter mais onde ir. O vizinho bate-lhe à porta e anuncia-lhe que vai dar uma festa nessa noite e que a quer convidar.
- O barulho não a vai deixar dormir, diz ele.
Ela fica tão atrapalhada que recusa só para se livrar do embaraço, desculpa-se com um trabalho importante que trouxe para casa. Passa a noite acordada na cama a ouvir a música da festa, a lutar com a timidez, derrotada por ser incapaz de se levantar, arranjar-se e ir para a festa, como tanto deseja.
"Bato à porta dele, digo que já despachei o trabalho e pronto.,diz a si própria para se convencer."
Mas continua paralisada e sabe que não vai ter coragem. Lamenta que o vizinho não a tenha insistido mais e adormece com lágrimas de frustração.
De manhã cruza-se com o vizinho, descem juntos no elevador, ele pergunta-lhe.
- Bom dia, linda vizinha! O barulho ontem há noite a incomodou muito?
- Não! - Responde ela como querendo se machucar a si própria.
- E a festa correu bem?
- Sim, sim! Muito divertida, diz ele, pena foi você não ter vindo.
Ela cora e sente-se estúpida por isso. Ele acha-a adorável. Ela acha-o perfeito com aqueles jeans, alegre, descontraído, bonito. Costuma suspirar quando pensa nele e sabe exatamente porquê.
Passa o dia bem humorada, embora se ache tonta por não ter razão para otimismos. Sempre pensou que não estava à altura dele, que é bom demais para si. No entanto, ele ficou intrigado. À noite volta a bater-lhe à porta e convida-a para jantar. Ela fica aflita, gagueja, mas ele diz com graça.
- Não aceito outra rejeição.
Ela ri-se, desconcertada, pede tempo para se arranjar. Toca à campainha, ele abre, elogia o seu vestido, diz que está deslumbrante, leva-a para a varanda onde está posta a mesa com vela acesa, oferece-lhe um copo de vinho. Sentam-se a conversar e ela pensa, controlando uma euforia, que talvez possa alcançar finalmente a felicidade completa.
(29/03/2012)
Rodrigues Joaquim:
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