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quinta-feira, 7 de março de 2013

"DEZ DIAS DE AMOR"

                                  

 Ela vem a Portugal pela primeira vez em muitos anos de sua vida. Chega de avião o transporte possível de cá chegar, trazendo a reboque uma mala de rodinhas. Está de férias e decidiu tirar uns dias sozinha na cidade do Porto, onde não conhece ninguém. Vai ficar uma semana num pequeno e agradável hotel para os lados de Matosinhos uma pequena cidade um pouco mais a norte da cidade do Porto a cidade que ela vem visitar. Entra no hotel, vai ver o quarto, deixa a mala e volta a sair sem demora, excitada com a perspetiva de aproveitar o resto da tarde. Vai vagueando por Matosinhos, a reparar nos turistas que andam por ali com a maravilhosa sensação de ser também como uma estrangeira numa terra estranha. Mete por uma ruazinha estreita e, chegando ao fim, dá com um café de especto acolhedor. Como tem fome e quer refugiar-se do calor, entra e senta-se a uma mesa. O empregado que vem atendê-la fala-lhe em inglês. Ela solta uma risadinha e pergunta-lhe com o seu sotaque do Brasil.
 - O que o levou a pensar que fosse estrangeira?
 Ele coça a sua cabeleira já rara, desgrenhada, ligeiramente embaraçado. Ela com cabelo bem tratado ligeiramente castanho claro, olhos castanhos, ar um pouco perdido e sem pressa.
- Achei que era, explica-se, peço desculpa.
Ela ri-se, divertida com a situação.
 - Não faz mal, diz ela.
 - Não é estrangeira mas é de fora, nota ele.
 - Sim, é verdade, sou Brasileira, vivo no estado Rio Grande do Sul.
 - Pois, já tinha reparado no sotaque.
 Ele vai voltando à mesa dela, para saber se precisa de alguma coisa, para fazer conversa. Ela acha-lhe graça e responde-lhe com gosto. É um homem entroncado, descontraído, veste jeans e t-shirt, tem uma alegria natural que a entusiasma. À saída, vai abrir-lhe a porta e pergunta-lhe se tenciona voltar.
 - Talvez, responde ela, enigmática.
Despede-se, volta ao calor excessivo que ainda faz ao fim da tarde. Mas nos dias seguintes regressa sempre para tomar o pequeno-almoço e ele lá está para a servir, maravilhado por tornar a vê-la. Ela fica a saber que está ali a trabalhar porque tinha ficado desempregado, mas que contava ser por pouco tempo, já tinha em vista algo melhor, e como a vida continua tem que ser, e trabalha ali para pagar os custos de uma casa onde ele vive, fica a saber outras coisas dele. Passam juntos todas as noites, no quarto dela. Ao fim de o 10º dia, ele leva-a ao avião, e depois de a beijar com paixão ajuda-a a subir com a mala e só volta com a partida deste já em movimento. Regressa a casa com um sorriso triste, já com saudades. Três meses depois ainda sente a mesma azia no fundo do seu estômago, a mesma que sentiu ao ver aquela mulher que o amou com o máximo carinho partir, ele quando se lembra disto deixa sempre cair uma lágrima. Ela passada alguns meses talvez porque não aguentasse voltou! Entra no café mas não o vê, pergunta por ele a uma empregada. Fica a saber que se despediu e não deixou nenhum contacto. O número de telefone que ele lhe deu já não funciona, procurou-o no Facebook e não o encontrou. De modo que sai do café desconsolada e, após alguns dias a procurá-lo pelos lugares em que andaram, volta ao Brasil com uma desilusão. Nunca mais saberá nada dele, nunca mais voltará a vê-lo, mas ficará sempre com a melancólica recordação daquele amor de 10 dias.

(07/03/2013)
Joaquim Rodrigues


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