Acordo com o som da chuva a bater na minha janela, olho para o relógio da mesinha de cabeceira e reparo que já é tarde, abro os olhos lentamente, olho em redor, estou sozinho. Vejo-me ao espelho na casa de banho, passo a mão pelo queixo áspero da barba por fazer, deixo-a ficar assim. Tomo um duche demorado, visto, calças de ganga, t-shirt, sapatos de ténis, um casaco grosso por cima. Saio de casa, entro no carro, arranco em direção ao mar.
Sento-me numa esplanada de Gaia tomo o café da manhã, e vou ver a praia vazia, assaltada pelas ondas. Apesar do Inverno, está um dia bom. O sol aquece. Na água, por entre a espuma da rebentação selvagem, saltam as velas das pranchas que ganham velocidade com o vento forte, para lá e para cá,
sem dificuldade aparente. Eu coloca os pés em cima de uma cadeira em frente e deixo-me ficar a observar as manobras das pranchas. Posso ficar uma, duas horas assim, a admirar a praia, as pranchas, as velas, até o pôr-do-sol chegar.
O telemóvel anuncia uma mensagem. Levanto os óculos de sol para ler melhor o texto. Largo o aparelho em cima da mesa sem responder à mensagem. É de uma mulher com quem não me apetece falar. Mais uma, tenho várias semelhantes que me foram sendo enviadas durante o dia por outras mulheres. Não me apetece nenhuma delas. A única que quero já não me envia mensagens, nem telefona. Nem sei bem porquê, só sei que desistiu de mim sem qualquer explicação. E a culpa não é de ninguém, não há culpa, há só aquele vazio da saudade de alguém que já não está aqui perto de mim.
Sou um homem na sua ilha. Sou bom no que faço, um trabalho solitário que me dá muito dinheiro e fama e não me ocupa muito tempo. As pessoas dizem-me coisas mas com inveja, que é o ideal, muito por pouco. Eu limito-me a sorri-lhes. Não sou casado e não tenho filhos a cargo. Sobra-me tempo, e espaço, na minha vida.
Não há mais ninguém na esplanada. Sinto fome, reparo que me esqueci de almoçar. Agora penso em jantar. Solto um suspiro de resignação, agarro no telemóvel, passo em revista as mensagens por responder. Qual ade ser? Não quero jantar nem acabar a noite sozinho. Enquanto vejo os nomes, penso que todas me deram bastante prazer, mas foi só isso. Só uma me deu seu amor, a que não me responde, e eu também lhe dei o meu amor.
Acabo a cerveja, peço outra. Bebo sem pressa, enquanto me decido. Envio uma mensagem, combino o jantar. Entretanto a tarde vai caindo, o sol enfraquece, levanta-se um vento frio. Daqui a pouco vou-me embora a pensar nela, onde estará? O que estará a fazer, essa mulher? E vou a pensar na ironia dos amores, tantas vezes desencontrados.
(24/10/2012)
Joaquim Rodrigues
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