- Não fumo, disse.
Comentou que era agradável aproveitar aquela varanda num dia soalheiro. Ela concordou. Continuou a falar. Não era o seu gênero meter conversa, muito menos sair-se bem, mas estava inspirado, eloquente, bem-disposto, fê-la rir-se com gosto. À frente deles estendia-se um extraordinário jardim desenhado à tesoura, com sebes geometricamente recortadas. A conversa fluiu pela tarde, continuou durante um passeio tranquilo pelo jardim florido, acabou de novo na varanda com o Sol mortiço, uma chávena de chá. E, no final do dia, ficaram com a sensação de se conhecerem há muito. Convidou-a para jantar, ela recusou.
- Hoje não posso, disse, mas talvez amanhã, se nos encontrarmos aqui.
- Combinado, respondeu, entusiasmado.
- Combinadíssimo, reforçou ela, sorridente.
No entanto, no dia seguinte não compareceu ao encontro e, ainda hoje, ele não sabe porquê. Não estava hospedada no hotel e não havia forma de a localizar, perdeu-lhe irremediavelmente o rasto. Contudo, ficou sempre aquela impressão de se entenderem perfeitamente, de natural cumplicidade. Agora, sentado à mesma mesa, fecha os olhos e imagina que, ao reabri-los, a descobre sentada ali ao lado como na primeira vez. Isso não acontece, evidentemente. Mais tarde, ao sair do hotel, cruza-se com uma mulher de cabelo loiro quase branco no preciso momento em que o empregado o chama, trazendo uma chave esquecida, e ele, voltando-se para o homem, não dá atenção ao vulto que passa por trás de si. Ela também não lhe vê o rosto e não o reconhece de costas. Ele vai-se embora e ela vai sentar-se na varanda, à mesma mesa de sempre, onde, por vezes, gosta de aproveitar o sol e imaginar como seria se ele aparecesse de repente e retomassem a conversa como se não tivessem passado dez anos.
(10/03/2013)
Joaquim Rodrigues:
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