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quarta-feira, 20 de março de 2013

"A Minha Amiga Isabel"



As diferentes experiências que vamos tendo ao longo da nossa vida faz com que inevitavelmente, por vezes pense-mos que certamente se o conhecimento que temos presentemente fosse o mesmo no passado agiriamos de forma totalmente diferente! Mas, não é esse o enigma da vida? Claro que cometemos erros, passamos por crises, sofremos com conflitos, mas estes encerram uma dupla oportunidade, a de aprender e amadurecer. É preciso encarar a mudança e a vida: mesmo se a primeira relação vier a acontecer de novo, jamais será a primeira relação, pois essa aconteceu e acabou certamente será uma outra relação deferente, quanto as pessoas nela envolvidas. Bem isto a propósito da mulher que foi até hoje acho! A minha melhor amiga, aquela com quem mais tempo passei momentos de felicidade, e me ajudou a ver um lado da vida que nem a minha companheira de ninho seria capaz de mo fazer ver.
(Culturalmente não são iguais, a Isabel é uma mulher culta bastante inteligente, nunca seria capaz de trocar a minha companhia por coisas supérfluas como ver telenovelas, senhora educada de bom diálogo e que não dispensa uma boa conversa. Confidenciávamos muita coisa, está sempre disposta a ouvir com paciência. A mulher inteligente que é, sempre a fez meditar bem, e talvez ela tenha montes de razão sobre a teoria do casamento, nunca foi dependente de ninguém nem precisa, usufrui de um salário acima da média. A única mancha na sua vida parecia ser o ter ficado desde há cinco anos a viver só depois de lhe ter falecido avó com quem foi criada, numa casa que daria um bom ninho dos melhores para ter filhos quantos quisesse, com espaço onde poderiam brincar sem problema algum. Eu até costumava brincar com ela sobre isso.
- Um dia os dois vamos começar a encher esta casa de gente – mas por opção nunca quis casar.
- Querido Joaquim! Vou contar-te uma novidade engraçada! Por sinal tenho um pretendente. Pensava que já não existiam pretendentes no seculo XXI, mas enganei-me deve ser um fenômeno imprevisível e intemporal, como os terramotos. – Sabes, no tempo da minha avó, o meu avô andou a ronda-la durante três anos até conseguir conquista-la. Namoravam pela janela. Ela lá em cima, ele cá em baixo. Como a minha avó vivia no segundo andar, a vizinha do primeiro andar tornou-se amiga dos dois. Felizmente era gorda e nada bonita, pelo que não oferecia nenhum perigo ao início do romance. Os meus avós foram casados 60 anos. E muito felizes. Tudo isto graças a um namoro à janela. Pelo que, bem vistas as coisas, embora fossem outros tempos, ele conseguiu conquista-la. - Joaquim, a minha avó era linda, loira de olho azul, alta com boa figura, chique a valer. Sabes como é! Assim como eu! “Corchete” dos pés à cabeça. Toda ela era vestidos, sapatos de salto alto e carteiras de verniz e de crocodilo, casacos de pele e saídas de piscina do mais elegante que já vi. O meu avô era baixo, careca, com os dentes ligeiramente salientes que lhe davam um certo look cavalar, nariz grande e olhos de cão vadio. Mas tinha uma grande qualidade que superava a sua fraca figura: era muito persistente. Apresentava-se todos os fins-de-semana, quando saia do Colégio militar, qual Príncipe que namora com Rapunzel. Nunca soube se chegou a subir por umas escadas de corda a minha avó nunca usou tranças compridas, o que inviabiliza a técnica engenhosa descrita no conto de fadas e imagino que a vizinha do meio a fazer de “chapeou” também não o teria permitido. O facto é que ao fim de alguns anos, a minha avó foi-se habituando à presença daquele rapaz persistente e acabou por ceder a casar com ele. Diz esse grande poeta “Vinícios de Morais” submetendo a sabedoria popular que (Quem feio ama, bonito lhe carece) e eu acho que ele está carregado de razão. Embora feliz com o casamento, a minha avó nunca deixou de reparar em bonitos rapazes como ela dizia, fossem eles amigos das filhas, das netas, netos, primos e sobrinhos. Uma vez, ao conhecer um namorado meu, exclamou:
 - “ Lindo rapaz, minha querida! Muitos parabéns por teres um namorado tão bonito! E, virando-se para ele, acrescentou:
 - Sempre gostei de homens bonitos, e olhe, casei-me com aquela tampa de açucareiro que ali vai.
A tampa de açucareiro era o meu avô, e quando esta cena se deu, já eram casados há mais de 40 anos. Tudo isto Joaquim, desculpa-me, é para contar que o meu pretendente, embora bem na vida e com os dentes direitinhos, me faz lembrar um pouco o meu avô, essencialmente pela falta de estatura. A sabedoria popular diz também que os homens não se medem aos palmos, mas eu sou como o poeta, gosto de subverter tudo à minha maneira e para mim os homens medem-se por tudo e mais alguma coisa, da inteligência e educação à generosidade, passando pela altura real. Um homem baixo será sempre um homem baixo e daqui não saio, daqui ninguém me tira. Não acho nem bem nem mal, mas para mim não serve. Se calhar a minha avó apaixonou-se pelo rapaz que via lá em baixo na rua exatamente por isso, porque nunca se apercebeu da altura dele. E como já não vou viver 60 anos, para quê pensar em casar-me com este? Nada disso, prefiro continuar como estou. A tal vizinha nunca casou, ainda é viva e trata-se de uma das pessoas mais felizes e realizadas que já conheci.
- Hahahahah, desculpa Joaquim, se quiseres dormir podes te estender ai meu querido! Hahahahah falo muito, não falo? Meu bem, Eu, hé!

01/05/2012:
Rodrigues Joaquim:

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